
A divulgação da comédia teatral Pequenas Igrejas, Grandes Negócios gerou polêmica na sessão da Câmara Municipal, na noite da última segunda-feira, dia 12. Vereadores, com posicionamentos evangélicos, se colocaram contra a realização do evento, durante discursos na tribuna livre. Após as críticas, o espetáculo, que seria apresentado hoje, no Centro Cultural Professor Lauro Monteiro de Carvalho e Silva, foi cancelado.
Um banner com a frase Pequenas Igrejas, Grandes Negócios foi divulgado na cidade e redes sociais, causando a revolta dos parlamentares. A comédia é uma adaptação da obra de Lauro César Muniz, O Santo Milagroso, escrita em 1962. A peça é assinada pela Ceart Produtora, com direção de Thiago Silva e Benê Silva.
Os vereadores Tiago Costa e Moacir Genuário, ambos do PMDB, expuseram o assunto no Legislativo. “Usar a Bíblia com uma nota de R$ 100 é uma afronta a quem crê”, declarou Costa. Já o colega de partido disse ser contra a peça porque denegria a imagem da família. Na época do Massacre do Charlie Hebdo, Costa ainda chegou a opinar em defesa da liberdade de expressão, citando, inclusive, artigo da Constituição Federal.
Samuel Cavalcante (PR) não usou a tribuna para atacar o evento, mas, como de costume, se posicionou por meio de sua página, no Facebook. Na postagem, o parlamentar afirmou que foi eleito para defender o modelo tradicional da família e, embora tenha dito ser “fã” da cultura, reforçou que jamais apoiará o investimento de dinheiro público em Carnaval e peças que satirizam o Cristianismo ou coisa do gênero. “Sou totalmente contra esse modelo cultural atual e, vou além, se um dia virar prefeito, eu acabo com essa estrutura cultural”, disparou.
Os parlamentares criticaram a Secretaria Municipal de Cultura e Turismo por “apoiar” o evento, chamando a atenção do secretário Marcos Dias dos Santos, o Marquinhos. Em nota, a Prefeitura informou que a Ceart Produtora desistiu de encenar peça na cidade e cancelou, temporariamente, a apresentação. De acordo com a direção da Cultura, o produtor Benê Silva tomou a atitude em decorrência de manifestações contrárias. A decisão foi informada à secretaria, na quarta-feira.

Nas redes sociais, outro diretor do espetáculo, Thiago Silva, atribuiu o cancelamento aos “vereadores evangélicos” e condenou o fato dos parlamentares terem feito um julgamento sem antes assistir à peça, classificando o episódio como um retrocesso. “O espetáculo é adaptação de um texto escrito em 1962! Será que regredimos tanto? As pessoas que criticam e que querem boicotar sequer tiveram o trabalho de assistir ou conhecer o espetáculo. Se vissem pelo menos a sinopse da peça, compreenderiam que não se trata de uma peça antirreligiosa”, explicou.
O Sindicato dos Artistas e Técnicos em Espetáculos de Diversões no Estado de São Paulo (Sated-SP) também se manifestou em “repúdio contra toda e qualquer ação que intente pela censura artística”.
A peça
Conforme explicou Silva, é um espetáculo leve e irreverente que satiriza o jogo de poder e a manipulação da Igreja. Principalmente, o espetáculo brinca com os “exploradores da fé”, sejam católicos ou evangélicos.
“Já tivémos padres e pastores que assistiram ao espetáculo e, inclusive, um dos atores é filho de um pastor, e estes não se sentiram ofendidos, pelo contrário, parabenizaram pela reflexão e pela forma de humor inteligente”, desabafou o diretor. A peça está circulando há tempos e já passou por várias cidades da região. A produtora responsável é de Paulínia-SP.