Árbitro da decisão do Paulistão de 2007, José Henrique de Carvalho, conta o início da carreira e recorda o dia em que foi obrigado a sair de um jogo depois de tomar uma picada.
Boteco – Você chegou a pensar em ser atleta de futebol?
José – Eu joguei futebol, mas não profissional. Fiz todo trabalho para ser profissional, fui sub-13, sub-15, sub-17, fui até o sub-20 no Rio Branco, sou de Americana. Minha família tinha uma condição de vida razoável. Em determinado momento, meu pai falou: ou você continua no esporte ou você vai fazer uma faculdade. Na época, o Rio Branco não tinha tanto apoio assim, aí eu acabei preferindo estudar. Fui pros estudos e você sabe que cinco anos depois, um árbitro da cidade, Anselmo da Costa, me chamou para fazer o curso da Federação Paulista, eu acabei não indo. Só fui aceitar três ou quatro anos depois, entrei até tarde na Federação, eu poderia ter entrado com 22, 23, fui fazer o curso com quase 30. Eu poderia ter sido árbitro já bem antes, mas não me arrependo de nada, de repente não ter sido atleta e a gente tem que valorizar as coisas que acontecem em nossa vida todos os dias sejam boas ou ruins para aprender.
Boteco – Muitas histórias curiosas como árbitro?
José – Eu sou da turma de 99/2000, então tenho muita coisa tanto de jogos amadores quanto profissionais. Infelizmente tive algumas pequenas lesões e tive que dar uma parada. E infelizmente eu tive que parar para depois voltar. Os árbitros também fazem treinamentos intensos e muitas vezes a gente acaba também tendo lesão. Às vezes fica no departamento médico. Em relação a jogos, a maior curiosidade, eu não sabia que eu era alérgico à picada de abelha. E no começo da carreira, fazendo um jogo de Segunda Divisão, Caieiras e Atibaia, eu sofri uma picada de inseto durante o jogo, por volta de 20 minutos do segundo tempo. E eu consegui aguentar mais uns 15 minutos, mas chegou uma hora que não deu. Porque as picadas foram na região do pescoço, a pressão começou a cair, aí tive que parar o jogo e pedir pro quarto árbitro me substituir. Foi até uma situação engraçada, fui pro hospital. Tive que ir. E não sabia até então. Acho que até tinha tomado picada, mas não numa situação de jogo, de fazer atividade física.
Boteco – E como foi a reação dos jogadores?
José – Todo mundo perguntou, o que aconteceu? O que ocorreu? Como a gente sempre tem que falar a verdade, eu expliquei. Tomei uma picada. Inclusive um dos atletas também havia tomado, mas não tinha acontecido nada. Às vezes você toma uma picada, dependendo da região, na perna, demora para ter um efeito, mas a minha picada foi muito em cima e aí eu tive que abandonar o jogo, o quarto árbitro fez o jogo por aproximadamente 10 minutos e foi tudo bem.
Boteco – E como foi a lesão?
José – Foi uma situação de treino e muito jogo, a gente acaba tendo jogo terça, quinta, domingo, às vezes a gente faz jogos amadores, aberturas de campeonatos, finais de campeonato. Uma grande parte dos árbitros começa a carreira trabalhando em campeonatos amadores. E a gente não pode esquecer essa raiz que a gente tem. Eu ainda estou no quadro da Federação, da CBF, como a gente tem uma certa experiência, acaba ajudando um pouco para ver esses árbitros emergentes, jovens, assim como eu no passado, começando e adquirindo uma condição para serem árbitros maiores.
Boteco – José Henrique de Carvalho volta para revelar qual a fama do tratamento do Mogi Mirim Esporte Clube aos árbitros, recordar seu primeiro jogo no Paulistão — Sapo x Santo André — e abordar a Máfia do Apito.