Na noite de segunda-feira, o Centro de Mogi Mirim se revestiu de cores e festa, para a solenidade da chegada do Papai Noel, evento tradicional que atraiu milhares de pessoas à Praça Rui Barbosa. As atrações deste ano deram um colorido e um sentido diferente para as festividades, mostrando uma grande disposição da população pelo evento, que inclui a decoração e algumas atrações especiais, como a pista de patinação no gelo e o Cine 6D.
De uma forma mais tradicional, uma extensa fila de crianças aguardava ansiosamente a abertura da Casa do Papai Noel, uma expectativa de sonho e desejo, mostrando que a figura do bom velhinho ainda desperta nas pessoas um quê de ternura e possibilidade de ser feliz. Era a fila de uma esperança de renovação, de sonho do presente desejado, de uma festa que não distingue cor nem classe social, embora o tom comercial sugira a discriminação.
No mesmo dia, pela manhã, uma outra fila se formou no entorno do Centro Cultural Lauro Monteiro de Carvalho e Silva. Ali, a expectativa era outra. O sonho era obter uma senha para a inclusão no programa Minha Casa Minha Vida, a possibilidade remota de conseguir a casa própria.
Milhares de pessoas passaram a noite em claro, ansiosas por obter a senha para dar início ao processo, sem saber que a ordem de chegada não importava. Falta de orientação e de respeito foram a tônica nesta fila, que misturava a esperança de um futuro melhor e a dura realidade de uma cidade onde ainda existem tantas famílias vítimas de um sistema perverso que as exclui.
Entre as duas filas, uma diferença abissal. Na primeira, o encanto das luzes e a expectativa de realização de um sonho quase unicamente infantil que pode se realizar com um gesto simples de atenção e solidariedade, de espírito de confraternização e um presente, uma pequena lembrança, que seja, mas que terá um significado profundo.
Na segunda, o retrato de uma população oprimida, desesperançada, agarrando-se a uma possibilidade remota de conseguir uma casa própria, que certamente estará muito distante do ideal e do padrão de dignidade. Mas é a alternativa que é oferecida por um sistema paternalista, de figuração, em momento em que as pessoas precisam de um teto para viver.
Ao contrário das promessas de Papai Noel, estas têm consequência. Passado o Natal e suas luzes, permanecerá apenas o escuro das ruas mal iluminadas, em bairros afastados e marcados pela violência. A frustração, o improviso e a provável condição indigna das residências calarão fundo, marcando a desesperança das classes sociais mais baixas.