Uma sociedade doente é aquela que não consegue dar suporte de segurança e atenção a crianças, jovens e idosos. Quando a assistência se torna muito necessária é reflexo de um problema enraizado no cotidiano das comunidades, incapazes de atingir um estado de equilíbrio, de justiça e segurança social. Um país como o Brasil tem acentuadas as suas desigualdades na medida em que se fecham as portas da educação crítica, do conhecimento aberto, do trabalho formal e da igualdade de oportunidades.
Os jovens que estão sob a guarda e orientação da Fundação Casa são exemplos dos desajustes sociais. Protegidos pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), sofrem o garrote do preconceito e da discriminação. Se agem tempestivamente como todo jovem, já são vistos como baderneiros, transgressores, potencialmente violentos. As pessoas não conseguem distinguir a marca da infração que parece vir inculcada na vida destas crianças, e assim fecham as portas da integração e do apoio indispensáveis.
Nesta semana, a Fundação Casa promoveu evento que visava a propor à sociedade uma novo olhar sobre os internos de Mogi Mirim. As rebeliões registradas nas últimas semanas levantaram barreiras quase intransponíveis, acentuando o temor da população, que é legítimo mas pode ser superado com informação e objetividade.
Há que se fazer distinção do trabalho realizado na casa onde os jovens são parcialmente inseridos na comunidade e o com os internos considerados mais violentos. Em todos os abrigados na Fundação Casa, porém em medidas diferentes, há uma réstia de esperança de viver uma vida normal de estudo e trabalho, e é preciso que todos assumam esta responsabilidade.
Se a inserção no mercado de trabalho já é um problema para um adolescente normal, passa a ser um drama para quem ostenta uma passagem pela Fundação. Mas é preciso que o empresariado local aja com determinação, sabedoria e responsabilidade.
Todos deveriam, de alguma forma, abrir espaço para que os meninos tenham oportunidade de se mostrarem competentes, confiáveis e produtivos. Condená-los sumariamente à indiferença e ao abandono é desumano, superficial e típico de quem julga que os altos muros das casas modernas serão capazes de esconder as desigualdades.