Eu sou uma mãe sem expectativas. Não sonho com eles se casando, não planejo a profissão e tão pouco a opção sexual. A minha maior torcida e preocupação é que sejam pessoas que conhecem a si mesmo, que vivam aquilo que acreditam e que tenham empatia por quem encontrar pelo caminho.
Isso acontece primeiro por mim, pelo tanto que gosto de gastar tempo comigo, de escolher como quero me vestir, como quero cortar o cabelo, como gosto de demonstrar afeto para os amigos e a alegria de sair correndo kms por aí.
Ao mesmo tempo que adoro almoço de família aos domingos com macarrão, frango e maionese, sinto que conquistei o mundo quando posso me sentir cansada ou preguiçosa e trocar tudo isso por uma linguiça no pão. Isto é sobre construir relações verdadeiras e não o peso da repetição de padrões com papéis sempre bem desenhados, cercados por quatro linhas.
Acontece também pela força que tem o acaso. Vou exemplificar para ficar mais fácil de compreender. Imagine que você está doente, com um câncer e precisa de uma cirurgia. Quando entra em contato com o convênio médico eles agendam a consulta para um mês. Aí a sua vizinha fala que é a melhor amiga da secretária e que pode conseguir adiantar para dois dias. Apesar do diagnóstico, está vivendo, comendo bem, conversando com amigos, não tem dor. O que você faz, aceita ou espera? Eu nunca sei.
A princípio pode parecer ótimo economizar trintas dias, mas, e se depois de operar sua qualidade de vida despencar? E se a partir dali começar antes um tratamento que te deteriora? E se sobrar uma sequela que dificultará uma função que tinha bem? Será que ganhamos dias ou os perdemos? Será que não poderíamos ter tido esses dias a mais de paz tendo em vista que nem de perto temos todas as informações para o resultado final? Honestamente, nessas horas, fico travada e, se puder, deixo para que alguém com mais clareza fale por mim.
É um caso extremo, mas penso parecido sobre a faculdade. Não faço ideia com qual curso a Gabi ou o Neto terá mais sucesso, até porque precisaria ter bem definido o que é isso e pode ser bem diferente para nós. É ter um bom emprego ou fundar a própria empresa? Ganhar ‘x’ ou o suficiente para o sustento e poder almoçar todos os dias em casa com os filhos? Talvez eu não fique feliz em ter uma filha médica com olheiras profundas por não conseguir caminhar no sol e nem um presidente de multinacional que não chegue a tempo para o velório do avô, mas pode fazer sentido ao sentimento de utilidade deles.
Ainda que com pensamentos cada vez mais claros a respeito da liberdade, é claro que, por vezes, ultrapasso a barreira entre nossas escolhas. Quantas delas não me agradam e ficam matutando sem parar na cabeça, naquele martelar insistente que às vezes só para depois de uma sessão de terapia.
Porém, é agente motivador o prazer de observá-los de fora, como seres humanos independentes de mim e o quanto se enchem de vida quando decidem sobre o próprio caminho.
Ao mesmo tempo em que ter pais presentes é indispensável para a construção de um ser humano seguro, poder escolher é tão fundamental quanto na construção da autoestima.