“É um absurdo os animais estarem nessa situação”, declara a ativista e auxiliar administrativa, Patrícia da Rosa Silva. Ela, que frequentemente fazia visitas ao abrigo localizado no antigo Departamento de Serviços Municipais (DSM), resolveu falar abertamente sobre o estado de abandono em que vivem os cães. O objetivo principal da denúncia é “ajudar os animais”, declarou à reportagem.
O abrigo, antes administrado pela ONG Vida, foi assumido pelo Governo Municipal há um ano e agora os animais estão sob a tutela do Bem Estar Animal (BEA). Contudo, segundo a denunciante, há um descaso da Prefeitura com relação aos cães. Segundo Patrícia, o local está abandonado, faltam medicamentos e a ração oferecida é de má qualidade porque não leva em conta fatores como o peso e a idade do animal, por exemplo.
A ativista também fez um alerta para o fato dos animais doentes estarem em contato com aqueles que estão sadios. De acordo com Patrícia, 16 cães estão com cinomese, doença transmitida por um vírus e que pode levar o animal até a morte. Vômito, diarréia com sangue e emagrecimento são alguns dos sintomas. “Eles ficam juntos e a doença vai passando, já que não há espaço para eles no CCZ (Centro de Controle de Zoonoses)”, lamenta.
A denunciante ainda questiona a falta de medidas preventivas, no caso de doenças como a cinomose, e acredita que há pouca divulgação do projeto de castração. “Tem que ter o processo de prevenção. Esses animais estão aí há muito tempo. Tem que castrar, colocar para adoção. As pessoas acabam saindo de Mogi Mirim para adotar no Guaçu”, argumenta.
Mesmo com a possível reforma do abrigo, anunciada pela Prefeitura, Patrícia não deixa de lado as reclamações e cobra por mais atitude do Poder Público. “Não quero saber de papel. Quero ver ação”, conclui.
Rebate
A Prefeitura respondeu à reportagem que a denúncia é infundada. Segundo informações do BEA, cerca de 90% dos animais – que totalizam quase 200 entre cães e gatos – estão castrados e vacinados, e apenas 14 deles, que chegaram há pouco tempo ao abrigo, estão aguardando por castração, processo que está em fase de licitação.
Com relação à falta de medicamentos, a Administração afirmou que, embora a compra dos remédios também esteja em processo licitatório, nenhum animal doente deixa de ser atendido e medicado. “Os animais que já chegam aqui doentes recebem todo o suporte necessário e são isolados dependendo da patologia”, explicou.
Sobre a ração, disse que a qualidade é boa, uma vez que a veterinária responsável faz todo um levantamento com relação às proteínas, umidade, entre outros itens que atestam a qualidade do alimento fornecido aos animais, e que as rações são diferenciadas para filhotes e adulto. A Prefeitura ainda enfatizou que se houve descaso com os cães foi por parte da população, que os abandona já debilitados.
Melhorias
Em nota oficial, o Governo Municipal disse que já está firmando parceria para reforma e ampliação do abrigo, que deverá dispor de baias, quarentena, sala para procedimento cirúrgico de castração, entre outros espaços. Contudo, essas melhorias ainda dependem da aprovação da alteração da Lei do Bem Estar Animal, já em trâmite na Câmara.
O BEA ainda informou que, nos últimos seis meses, foram castrados aproximadamente 250 animais, entre caninos e felinos, priorizando as fêmeas e animais no cio, e que o trabalho de prevenção é promovido principalmente por meio das feiras de adoção. Também que os programas de adoção são frequentemente realizados através de eventos.
Além da página no Facebook, que divulga as fotos dos animais, o local é aberto, durante a semana, das 8h às 16h, para visitação daqueles com interesse em adotar. Ainda em nota oficial, a Prefeitura afirmou que a própria denunciante já fez várias solicitações ao BEA e todas foram atendidas.
ONG: burocracia e falta de verba limitam os trabalhos
Em entrevista ao O POPULAR, a vice-presidente da ONG Vida, Isabel Taberti, afirmou que o abrigo foi entregue à Prefeitura por falta de verba. “Nós não falimos. Eles foram deixados lá por falta de espaço e recursos”, disse. No entanto, Isabel confirmou que a ONG continua disposta a ajudar e a atender os cães que precisam de procedimentos de alta complexidade, uma vez que o BEA não tem estrutura para prestar esse tipo de serviço.
Segundo a vice-presidente, um termo de compromisso foi firmado com o Município em agosto do ano passado. “O contrato venceu e ainda não foi renovado no papel. Mas continuamos no apoio”, ressaltou. Isabel avaliou a atual situação do abrigo e acredita que os processos burocráticos e os recursos limitados do Poder Público acabam dificultando os trabalhos.
Ela também confirmou que a ração não é de boa qualidade. “Infelizmente não. A Prefeitura é obrigada a comprar o produto de menor preço”, argumentou. Recentemente, a ONG fez uma doação de 400 quilos de ração ao BEA. Com relação ao problema da cinomese, a ONG informou que todos os animais do abrigo foram vacinados em abril deste ano. Os gastos com a medicação, custeados pela própria organização, ficaram em torno de R$ 2 mil.
A vice-presidente ainda explicou que muitos animais abandonados nas ruas já estão doentes quando são trazidos ao local. “E aqueles que realmente correm risco são os que chegaram no abrigo após essa vacinação”, esclareceu.
De acordo com a ONG Vida, o abrigo conta atualmente com cerca de 100 animais, sendo 70 cães e 30 gatos. Uma feira de adoção é realizada todos os finais de semana, na Praça São José, das 9h às 12h.