Conscientes da crise enfrentada pela Prefeitura e cansados de encarar a sofrível condição do solo, praticantes de vôlei e futevôlei do grupo Família Zerão decidiram se unir e custear uma reforma na quadra de areia do Complexo José Geraldo Franco Ortiz, o Lavapés. O objetivo da obra, autorizada pela Prefeitura, foi deixar o solo mais fofo, com mais areia, para evitar o contato próximo com o piso de concreto, que dificultava os movimentos e facilitava lesões. “Tinha o cimento por baixo, aí chovia, ia socando areia em cima do cimento, ficava duro. Com a caixa de areia, aí quando chover, a terra vai chupar e vai ficar fofo”, explica Vitor Vieira, atleta de futevôlei. “Mesmo que fizer uma poça de água, a areia vai ficar dentro dessa caixa”, completa Rudnei Silva, o Rudinho.
Na quarta-feira e quinta-feira, com a contratação de uma máquina, foi realizada uma obra para retirada de concreto, abrindo um buraco para a montagem de uma caixa de areia no mesmo nível. Um pouco de areia já estava no local, mas é necessária a aquisição de mais um pouco para deixar o solo totalmente nivelado, pois agora um lado está mais alto. A evolução, porém, já é sensível e empolgou os atletas. “Ficou show de bola”, festejou Pedro Gonçales, o Polaco.
O grupo se cotizou para dividir as despesas. Uma entrada foi dada de R$ 500 e o restante seria pago posteriormente. Para providenciar mais areia, um novo rateio pode ser realizado caso não sejam viabilizadas doações. “Como a Prefeitura está passando por essa crise, eles não estão em condições de fazer tudo o que está precisando”, explicou Rudinho.
Anteriormente, em solução paliativa, o grupo retirava areia dos cantos para colocar no meio da quadra. “A gente vinha na mão, na enxada, na carriola”, lembra Rudinho.
Os participantes do Família Zerão contam com um grupo de WhatsApp e uma página no Instagram. Aproximadamente 12 jogadores de futevôlei jogam de segunda a sexta-feira. Outra turma joga vôlei, aos finais de semana.
Os interessados em colaborar podem entrar em contato pelo telefone 9-892601454, com Rudinho.
Ação é exemplo; outras melhorias são necessárias
O custeio das reformas é observado como um exemplo de como a comunidade pode se mobilizar sem apenas esperar uma atitude do poder público. “Está todo mundo na crise. A turma que joga tem que se mover um pouquinho também. A maioria só quer jogar. Se cada um que gosta do esporte se manifestasse e se sacrificasse um pouquinho, só ia fortalecer”, frisou Rudinho. “Isso pode ser um espelho para outras pessoas em outros lugares”, explicou Givanildo Rolin, o Preto.
Por outro lado, a ação também serve como um recado da Família Zerão de que a colaboração precisa ser recíproca. “Quando o governo não tem condição de ajudar a população, as pessoas se unem com eles e faz. E depois de feito, nós vamos querer que eles se unam com a gente e faça mais melhorias que a gente está começando”, salienta Preto, deixando claro que não há intenção de confrontar, mas sim unir. “A gente não está brigando, a gente está unindo. Se o vereador, deputado, prefeito não consegue sozinho, a população aqui pelo menos está se juntando e começando a fazer. Depois de feito, seria muito fácil para eles darem uma força”, ressaltou.
Entre as melhorias desejadas está um banheiro para ser usado pelas famílias que acompanham os atletas. Outro ponto seria uma ducha para os atletas usarem.
Uma das possibilidades aceitas seria a liberação para uso do banheiro do estádio localizado ao lado, com a ideia de que a equipe use e limpe. “Sem baderna, a gente vai usar e limpar. Tem gente que vai trabalhar, vai tomar banho, sair limpo. E se tiver melhorias para fazer lá, a gente faz também”, comenta Preto.
A iluminação também é considerada precária, gerando insegurança em familiares. A melhoria do parque nas proximidades, para as crianças, hoje coberto pelo mato, é outro fator apontado. Outro ponto é a situação do local onde fica a torneira para os praticantes tomarem água. “Onde a gente bebe água era brejo, se nós não arrumarmos todo dia com enxada para abrir uma valetinha para a água ir embora é brejo, fica larva de dengue ali”, aponta Daniel Francisco.
Torneio “inaugura” quadra reformada, no sábado
No próximo sábado, a partir das 8h, a equipe de atletas promove um torneio de futevôlei com duplas de Mogi Mirim e região. As inscrições podem ser feitas na hora. São esperadas de 12 a 16 duplas. Haverá premiação com troféus para os três primeiros colocados e um ao melhor jogador. O valor da inscrição é de R$ 60 a dupla. A verba será utilizada para viabilizar a premiação, frutas e camisetas e eventualmente usar parte para ajudar no pagamento da reforma.
Nas competições em outras cidades, como Campinas, os atletas percebem uma estrutura muito melhor. Agora, com a reforma, já foi notada uma sensível evolução. “Ficou bem melhor, ficou macio”, comentou Rudinho, explicando que os movimentos do futevôlei exigem um piso macio. “Quando mais macio melhor, porque tem que mergulhar para pegar umas bolas, mergulha até de cabeça, tem que ter bastante areia para fazer umas loucuras”, brincou Rudinho.
Dirceu apoia iniciativa, mas observa dificuldades
O secretário da Secretaria de Esportes, Juventude e Lazer (Sejel) da Prefeitura, Dirceu Paulino, analisa como positiva a participação popular e lamenta as dificuldades do Poder Público para melhorias. Mas lembra que a Prefeitura agiu em conjunto com a retirada dos entulhos da obra e deve solucionar parte da iluminação. “A gente sabe que o esporte não é uma área que recebe verbas em Mogi para serem recuperadas”, lamenta, lembrando como um caso raro a reforma dos vestiários do Estádio Ismael Polettini.
Dirceu lembra haver 23 quadras em Mogi e que, embora muitos não entendam, elas fazem parte da secretaria de Obras, que tem outras prioridades como creches, escolas e Unidades Básicas de Saúde (UBSs).
Em relação ao banheiro do estádio, Dirceu explica que teria que ser construído outro independente para os usuários das quadras e praticantes de caminhadas e corridas, sendo que já haveria um projeto. Mas recorda que o banheiro do estádio pode ser usado por todos quando estiver aberto. O problema é que o local fecha por volta de 17h, justamente quando o movimento tem início de forma mais intensa. Deixar o banheiro do estádio aberto é inviável, pois segundo Dirceu, correria o risco de ocorrer algo semelhante a outros locais. Um exemplo citado foi o sanitário do Estádio Ocílio Rottoli. “Os usuários de drogas tomaram conta”, explica, lembrando que os banheiros públicos precisam ter um funcionário cuidando.