Bandidos de fora podem estar migrando para o interior

O caso de uma quadrilha que furtava residências, vinda de Rio Claro, e que foi presa na terça-feira em Mogi Mirim, mostra que cada vez mais criminosos saem de cidades maiores para agir nos pequenos municípios. De acordo com o especialista em segurança urbana e professor de Direito Penal na PUC-Campinas, José Henrique Specie, não é possível afirmar categoricamente que os criminosos estão migrando para o interior, mas que há, sim, um pouco de verdade nesse fator.

Segundo Specie, o aumento na criminalidade não é mais uma característica apenas das grandes cidades, sendo cada vez mais comuns em municípios menores. A esse fato, ele atribui como causas a movimentação econômica nessas pequenas cidades e a as melhorias na segurança pública das metrópoles. “Como as cidades menores não têm todo esse aparato de segurança, como polícias especializadas e grande efetivo trabalhando no policiamento ostensivo, os bandidos acabam encontrando aí uma oportunidade para agir”, explica.

Outra análise feita por Specie é o aumento da violência durante os crimes, com mais uso de armas de todo tipo, desde revólveres, facas, até pedaços de pau, para ameaçar a vítima. “Isso é a problemática social da banalização da violência. Os crimes já não causam tanta comoção, e isso, aliado à sensação de impunidade, acaba sendo uma espécie de estímulo para o criminoso”, afirma.

Nesse contexto, ele cita também a “extinção de bandidos como os batedores de carteira”, citando que a suposta impunidade é uma porta aberta para que essas pessoas andem armadas e não tenham medo de intimidar suas vítimas no momento da abordagem.

Estatísticas
As oito cidades que compõem a região administrada pela Polícia Militar, Mogi Guaçu, Mogi Mirim, Itapira, Jaguariúna, Pedreira, Santo Antônio de Posse, Holambra e Estiva Gerbi, possuem populações diferentes, mas em comum, o aumento nos índices de crimes patrimoniais, como roubos e furtos, inclusive de veículos.

As estatísticas dos meses de janeiro e fevereiro deste ano, divulgadas pela Secretaria de Segurança Pública de São Paulo, apontam que inclusive cidades pequenas, como Pedreira e Holambra, que possuem, respectivamente, 44,5 mil e 12,7 mil habitantes, tiveram muito mais do que o dobro de casos de roubo, em relação ao mesmo período de 2013. A maior cidade da região, Mogi Guaçu, também registrou grande aumento neste tipo de delito, 120%. As únicas cidades que registraram ligeira queda ou mantiveram o mesmo índice foram Santo Antônio de Posse e Estiva Gerbi.

Nos casos de furtos comuns, quase todas as cidades registraram alta. Em relação aos furtos de veículos, o município que registrou mais ocorrências foi Mogi Mirim, com 27% mais casos este ano.
Confira mais dados estatísticos da região na tabela.

Quadrilha presa

Na tarde de terça-feira, três pessoas foram presas em Mogi Mirim, acusadas de fazerem parte de uma quadrilha de furtos em residências. Os ladrões moram na cidade de Rio Claro, e estariam agindo no município.

Segundo informações da Polícia Militar, foram presos Mahal Latuf, de 29 anos, Jefferson Mariano de Paula, de 23 anos, e Rafael Cristiano Aguiar Brito de Sousa, de 23 anos.
Tudo começou quando uma testemunha denunciou que havia uma movimentação estranha em uma casa à Rua Jorge Bertolaso Stela, no bairro Santa Cruz. Quando os policiais chegaram ao local, notaram que a residência tinha sinais de arrombamento no portão, e que os cômodos estavam revirados.

Em contato com a testemunha, ela descreveu o veículo em que os invasores estavam, um Fiat/Palio Weekend preto, e as características de Jefferson e Rafael, que teriam sido deixados no imóvel por Mahal para furtar objetos.

Neste momento, o veículo passou na rua lateral, sendo visto pelos policias, que iniciaram a perseguição. Quando abordaram o carro, os três estavam no veículo, mas nada de ilícito foi encontrado com eles. Entretanto, a testemunha reconheceu o veículo e os dois ladrões que invadiram a casa, sendo que eles foram presos em flagrante por furto qualificado e formação de quadrilhas, enviados posteriormente para a Cadeia de Itapira.