Quando os filhos nascem, a gente pensa que a privação do sono deve durar apenas alguns meses, até que o relógio biológico da criança amadureça e tudo volte ao normal. Ledo engano! A verdade é que, assim como a grande maioria das coisas, dormir torna-se cíclico. Até tem um período que passar a noite em claro ou acordar algumas vezes seguidas fica esporádico, geralmente ligado a alguma dor ou febre, mas volta com tudo na adolescência.
Os motivos são cômicos, para não dizer trágicos. Ocupam os finais de semana e ganham força extra nas férias, com o perambular pela casa, lanchinhos de madrugada, amigos distribuídos pela sala toda e risada correndo solta!
Venci a primeira infância com sucesso. Não posso reclamar de jeito nenhum. Tanto a Gabi quanto o Neto foram bebês que dormiam bem. Ainda assim, haviam duas situações terrrrrrríveis. A primeira era quando saíamos à noite e eu bebia alguma coisa com álcool. Era desesperador chegar em casa e ainda ter que dar banho, trocar, fazer mamadeira, escovar os dentes para só depois colocar para dormir. Tudo o que eu queria era cair na cama, numa irresponsabilidade assumida.
A outra situação desafiadora era logo após o almoço, nos finais de semana. Sabe quando o corpo entende que é sábado ou domingo e fica molão, naquela vontade de dar uma descansadinha? Os olhos fecham sozinhos enquanto a criança está lá, feliz da vida, a todo vapor como se tivesse acabada de ser recarregada na tomada. Sentia vontade de chorar!
Agora, novamente, estou na frequência do pouco sono. Quando estou responsável por buscar na madrugada, fico no sofá tirando pequenos cochilos até dar a hora, com o cérebro em estado de alerta. Ao sinal de fumaça rsrsrs, atravesso a cidade, distribuo os amigos em suas respectivas casas e, ao invés de ficar minguando de sono, passo o resto da noite virando de um lado para outro, como se a cama estivesse cheia de espinhos.
Dado meu histórico de pessoa sonolenta, nunca imaginei que dormir se tornaria um problema. A dificuldade aparece quando ultrapasso o horário rotineiro ou me envolvo em uma situação de estresse, algo que naturalmente dois adolescentes estão bem longe de compreender.
Gabi e Neto tinham a terrível mania de querer decidir sobre suas vidas quando eu tomava rumo do quarto. Eu fervia e via meu sono colocando a malinha nas costas, seguindo rumo ao além. Foi assim até o dia que tivemos uma briga horrível, uma baita gritaria e no dia seguinte compreenderam que não dava para mim.
Isso não acontece mais. Agora a única novidade é que meus carneirinhos estão acostumados com funk e sertanejo universitário… Às vezes são surpreendidos com um Queen. De repente você está na marcha lenta, quase não conseguindo mais pronunciar os números e pá: começa uma corrida insana dos bichanos ao som de Marília Mendonça. Aí você gentilmente levanta, vai até o banheiro em que a criatura está feliz com seu banho e, claro, a porta está trancada.
Por Bárbara Andrade
Empresária, formada em Jornalismo, pós-graduanda em Psicologia e Coach, foi vice-presidente da Associação Civil Sanquim até 2019 e professora voluntária de Redação. [email protected]