Henrique Pizzolato, aquele condenado a 12 anos e sete meses no processo do Mensalão, não quer voltar ao Brasil. Não tem simpatia pelos presídios pátrios. Acha-os desconfortáveis. Ao menos é o que sustenta na Itália, onde foi se alojar graças a um passaporte falso em nome de um irmão.
Ele prefere ficar por lá. Prefere, pois, os xilindrós italianos. É o que vai defender agora, quando a Justiça da Itália, através da Corte de Cassação de Roma, autorizou sua extradição.
Em certos momentos não acho que Pizzolato tem antipatias em relação aos presídios brasileiros. Na verdade, deve ter-se convencido de que, o que tinha que fazer no Brasil, já fez. Nada mais lhe resta aqui. Quer viver sob outros ares, convivendo com outras paisagens. Ah! sim. E negando que tenha embolsado um mísero centavo no rumoroso escândalo deflagrado após delação espontânea e sem aceno de vantagem alguma em troca, do ex-deputado Roberto Jéfferson.
Estas são coisas muito típicas e muito peculiares dos brasis em que esta terra descoberta por Cabral (Colombo chegou antes mas não prestou atenção) se divide. Aqui tudo tem uma pitada de graça. Sem trocadilho, pelamor. Tudo aqui dá causa a boas e divertidíssimas piadas. Não é por acaso que sejamos produtores de humoristas de primeira linha.
Henrique é um desses personagens da galhofaria nacional. Nesta terra abençoada tem gente que é pego com dinheiro na cueca e consegue se explicar. Já batom é mais difícil, né? Do alto de sua ficha limpa, Maluf vangloria-se de que, diante do escândalo da Petrobras, é um miserável trombadinha.
Olha, acho que Zé Simão foi escolhido a dedo para habitar o Brasil. Nada mais apropriado, combinado. O esculhambador da República não teria a mínima graça (de novo?) na Inglaterra.
Não é de hoje que perdi minhas esperanças de que o Brasil seja consertado, exceto em alguns séculos. Não é hipótese, portanto, que virei a testemunhar, caso se concretize, a despeito de meu plano de viver até os 120 anos.
Não se trata apenas de desalento, de descrença e essas coisas do ramo. Acho ser mais do que isso. É questão de vocação. O Brasil tem essa vocação. A vocação da bandalheira que serve à desopilação do fígado dos cidadãos.
Eu não consigo ver o Brasil politicamente correto. Do mesmo jeito que o Homem pôs Zé Simão aqui, ele antes fez outra escolha: decidiu que teria direito a momentos de bom humor, uma vez que não seria fácil cuidar dos problemas do mundo. Olhou para baixo e apontou o dedo: “é ali”. “Ali” era aqui. E o Brasil foi eleito para divertir o Criador.
De sorte que (ô coisa antiga, não é mesmo), fosse nosso amado país diferente do que é, não sei quantos brasileiros teriam restado aqui. O brasileiro gosta disso aqui do jeito que isso aqui é. O brasileiro não teria saco para viver aqui se tudo fosse muito organizadinho. Porque tudo que funciona muito organizado não tem graça. E o brasileiro, diante da sina que lhe foi traçada, não sabe viver sem rir.
Valter Abrucez é jornalista autodidata. Ocupa, atualmente, o cargo de Secretário de Comunicação Social na Prefeitura de Mogi Guaçu e escreve aos sábados em O POPULAR