sábado, novembro 23, 2024
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Brisa de esperança

A Gabriela mudou minha vida! Namorava havia dois anos quando engravidei no meio do caos familiar, dos dois lados. O pai do Alisson tinha acabado de morrer e meu padrasto estava falido após assaltos seguidos. Só fiz um teste por desencargo de consciência, já que achava normal que meu organismo estivesse gritando em meio ao caos. Na verdade, grita até hoje, fora de mim, não da forma que pensava (rsrs).

Embora estivesse em um período sombrio, o dia que descobri a gravidez fui acometida por uma paz sem tamanho. Não havia nada no lugar: além dos problemas já relatados, eu estava no último ano de faculdade, tinha um emprego que ganhava mixaria e o Alisson ainda estava dando cabeçada como homem. Mas nada disso importava. Ou, melhor dizendo, nada disso era maior que a alegria e a certeza de que eu nunca mais seria sozinha.

Foi tanta, mas tanta felicidade, que eu queria sair contando para todo mundo. Tinha combinado com o Alisson dele ir na minha casa no dia seguinte ao exame, à noite, para darmos a notícia aos meus pais, mas não consegui. Primeiro porque acho um horror aquela cena de todo mundo sentado no sofá em círculos, daí você dá a notícia e fica esperando a reação. Deus me livre! Depois porque, me conhecendo, sabia que não conseguiria passar o dia sem falar para ninguém, e, por respeito, queria que fossem os primeiros a saber.

É claro que carreguei muita culpa, me sentia inconsequente toda vez que pensava em como alguém informada ainda engravidava sem planejamento, sem ter recursos. E, mesmo a mochila a que me coloquei já sendo bastante pesada, vez ou outra um espírito de porco soltava um “não tomava remédio?”.

Não foi fácil e às vezes ainda não é, mas é mágico! A Gabi trouxe vida! Com ela renasceu a alegria e a confiança de dias melhores… e como foram! Sabe que até hoje eu reajo com nostalgia quando algum amigo tem filho e vai da maternidade para a casa? Tudo, absolutamente tudo muda de contexto e aquele sentimento de “família fresca” é incrível.

No fundo, por ingenuidade, eu sempre quis ser mãe nova. Aquela brisa de rostinho redondo e bochechas rosadas não poderia ser presente melhor. E eu entendi que aquele sentimento de não estar mais sozinha, não é sobre presença física. Falo da força que brota no coração, que é capaz de fazer com que puxe sozinha um caminhão ladeira acima. Aquela coragem em viver.

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