Atração em evento na chácara de Capone, o ex-craque Antônio de Oliveira Filho, o Careca, bateu um papo no Boteco e revelou como um churrasco ajudou o São Paulo na conquista do Brasileirão de 1986, quando fez um gol decisivo diante do Guarani, levando a decisão para os pênaltis. No bate-papo, Careca ainda aborda o fator emocional das decisões.
Boteco – Alguma história de bastidores te marcou na final?
Careca – Não na partida, mas tivemos o primeiro jogo no Morumbi, a gente esperava ganhar, mas teve o empate, o Evair fez o primeiro gol e eu empatei. Aí viemos pra decidir o título na quarta-feira em Campinas. A rapaziada toda queria uma concentração de três dias. Eu falei: “vocês estão loucos”.
Boteco – Qual rapaziada, os jogadores?
Careca – E a diretoria, pelo resultado, porque a gente esperava ganhar e depois lá com o empate seríamos campeões. Como empatamos, acharam melhor recolher e falaram: “vamos segunda-feira já para concentração”. Eu falei: “pô, vocês estão de sacanagem, eu sou casado, vou ficar quieto em casa, tomando minha cerveja”. Mas não teve jeito. Eu falei: “tudo bem, até concordo, vamos embora, como a maioria optou pela concentração. Eu falei: Tudo bem, eu vou, mas tem que ter um churrasco na segunda-feira”. Nós ficamos no Hotel Transamérica, em São Paulo, e teve churrasco. O churrasco era para terminar às 10 da noite como um jantar, terminou quase 2 da manhã. Aí na terça-feira, treinamos e viemos para Campinas. Nós nos divertimos, porque é o seguinte: o nosso grupo era muito bom. Além de ser competente, era fechado. Pegamos esse desafio de ficar três dias fechados, mas por um motivo interessante, que era a final do Brasileiro. E o Guarani era muito forte, mas a nossa equipe na época era muito poderosa, com jogadores rápidos, Muller, que era espetacular, Pitta, Silas, grandes jogadores. E viemos para Campinas e conseguimos levantar a taça.
Boteco – E o churrasco de alguma forma ajudou a deixar o time mais leve para conseguir a taça?
Careca – Não tenha dúvida, nós tivemos a oportunidade até de ganhar, mas o Guarani era muito bom. E ali foi a oportunidade para gente cobrar um do outro, sem deixar de lado uma cervejinha. Três dias de segunda até quarta-feira à noite não ia fazer mal nenhum. E na verdade foi feita a concentração para isolar completamente negócio de cerveja, de sair para quebrar na noite. E não tinha motivo, porque a gente não tinha ganhado nada. E serviu para realmente fechar o grupo e nos deixar mais confiantes.
Boteco – Existe a questão do jogador que na Hora H cresce e aquele que dá uma tremida, uma pipocada na decisão?
Careca – Tem jogadores que sentem uma final, um jogo importante, um clássico. Até posso contar uma história, que é mais o emocional. Estive no Napoli, na Itália, seis anos, tinha o De Agostini, volante, bom jogador, mas tinha uma ansiedade muito grande. Quando anunciava que ele ia jogar, podia ser um jogo normal, nem clássico, ele passava mal demais, tinha ânsia, vomitava, enquanto não jogava para fora essa coisa, ele não conseguia entrar em campo. E a primeira vez, eu não sabia. Eu vi ele no banheiro “chamando o Hugo para caramba”, passando mal, chamei o médico. “É assim mesmo, deixa ele lá. É a ansiedade”, o médico disse. Eu falei: “pô, ele vai morrer”. Aí ele ia pro jogo e jogava pra c… E tem jogadores que não jogam para fora e sentem, não conseguem jogar. Dá uma tremida, não é nem pipocada, mas tremem, sentem, isso faz parte do ser humano.
Boteco – Careca volta no sábado, dia 27, desta vez para recordar momentos no futebol e na noite com Maradona, um parceiro dentro e fora de campo.