Integrante da comissão técnica do Mogi Mirim e com passagens por diversos clubes do futebol nacional, o técnico Carlos Júnior recorda um divertido desentendimento no Centro Limoeirense, de Pernambuco, com o atacante Carlinhos Bala, estrela da conquista da Copa do Brasil de 2009 pelo Sport diante do Corinthians.
Boteco – Como foi a polêmica com o Carlinhos Bala?
Carlos – Essa foi muito engraçada, depois que passa. Mas foi determinante para ganhar o próprio atleta, o respeito. Carlinhos Bala, famoso e tudo, tinha sido campeão da Copa do Brasil pelo Sport em 2009. E em 2013 eu era treinador do Centro Limoeirense, no Centenário do Centro. E aí eu marco a preleção para 18h30, o jogo era 19h30. Ele me chega 19h15 com uma morena de 2 metros, ele tem 1 metro e meio. E chega o Carlinhos Bala no vestiário. “O Carlinhos, tá de brincadeira, tá me tirando? Que isso, que é essa mulher aqui? Não. Pegue ela e leve ela lá pra tribuna. E você pode trocar de roupa agora”. Aí ele ficou meio que arredio.
Boteco – Ele era o rei lá?
Carlos – Ele se sente o rei, né? Aí chamei meu preparador físico: “Joilton, vem cá. Faz uma troca pra mim na escalação. Coloca o Carlinhos com a 10 no banco e o Emanuel com a 18 vai pro jogo”. Aí ele ficou muito bravo na hora, saiu do vestiário, foi atrás do presidente, achando que ia mudar o meu ponto de vista. Aí foi mais engraçado ainda, que o presidente falou: “tu é doido, não vou mexer com aquele homem, não, tá doido, é? Depois do jogo, eu mando ele embora se perder, mas agora, não. Volta lá e faz o que ele tá mandando”. E aí foi o que aconteceu. Carlinhos Bala foi pro banco e ele tem uma sorte danada, tem uma estrela esse cidadão que com 20, 25 minutos, o menino Emanuel sente uma dor, um desconforto e sai. E aí eu na hora: bora, bora Carlinhos, vai lá e resolve”. Ele entrou, com 10 minutos, foi lá e fez o gol da vitória, 1 a 0. Em cima do Ararapina. Ele foi lá me abraçar e tudo, me pediu desculpas, disse que o erro não tinha sido dele, tinha sido do presidente, que disse que ele podia chegar atrasado. Que chegar atrasado, lógico que não, tá louco? Pode chegar atrasado todo mundo, o atleta, não. Ele chegou com a mulher no vestiário ainda, são histórias que você vai guardar pro resto da vida.
Boteco – E as explosões que você tem, até o presidente estava com medo de falar com você… Tem outras histórias?
Carlos – Uma que ficou marcada foi quando o presidente veio falar para que eu levasse o Carlinhos Bala pro interior e eu disse que não iria levar porque um jogo antes o Carlinhos não viajou comigo, tinha matado a mãe dele, dizendo que a mãe dele estava na UTI morrendo. Era um jogo fora de Pernambuco. Depois a gente descobriu que era mentira. Ele pegou quase R$ 30 mil na mão pra fazer sete ou oito jogos finais, e estava escolhendo os jogos que ia, aí descobri e comecei a escantear ele. Comigo não passa, determinante pro grupo é que a pessoa que comande tenha coerência e decisão sincera e honesta.
Boteco – Ali você ganhou o grupo também?
Carlos – A gente ganhou o grupo, o pessoal viu que tenho uma postura firme, sou correto e coerente com minhas decisões. Comigo joga pela bola, não existe essa de vai jogar porque tá dando um dinheiro ou porque o pai pediu.
Boteco – Tem muito disso, de proposta?
Carlos – Amigo, é o que mais você vai ver na vida. Alguém oferecendo um dinheiro para colocar o filho, é o empresário dando um dinheiro na sua conta, 10, 20, 30, 50 mil pra botar pra jogar. É o que mais tem hoje em dia, por isso a gente vê a qualidade do nosso futebol cair cada vez mais.
Boteco – Carlos Júnior volta para contar polêmicas histórias envolvendo tentativas de interferência em sua escalação, com dinheiro de empresário ou pressão de dirigentes.