Dirigente da Santa Luzia, Walter Gomes, o Carneiro, de 73 anos, relembra a época de fundação do clube, recordando a escolha do símbolo e das cores, regada a muita pinga.
Boteco – Muitas histórias Carneiro?
Carneiro – Só de Santa Luzia são 50 anos, 55 tudo.
Boteco – De onde surgiu o apelido Carneiro?
Carneiro – Foi na Santa Luzia mesmo, a gente foi jogar fora, eu dei uma cabeçada num peão, aí começaram a me chamar de Carneiro, Carneiro, Carneiro, ficou até hoje.
Boteco – Você começou jogando?
Carneiro – Eu comecei com o Ypiranga, era molecão, tinha uns 16 anos. Depois, passei pra Etec, aí eu briguei com a turma, num boteco nosso, peguei e montei a Santa Luzia.
Boteco – O senhor fundou a Santa Luzia?
Carneiro – Eu e o Valdomiro Preto.
Boteco – Quando o senhor montou era para jogar?
Carneiro – Jogava e era técnico. Era lateral-esquerdo. Era técnico, jogador e presidente. Joguei só uns cinco anos.
Boteco – O que vocês disputavam?
Carneiro – Eram mais amistosos pelas fazendas. Era gozado, íamos de caminhão, todos ajudavam a pagar. A camisa, a bola, a gente fazia vaquinha. O caminhão ia e voltava com 50, 60 pessoas. Depois, saiu o campo do Tucura. Eu jogava num domingo, no outro jogava a Tucurense com o Seo Antônio.
Boteco – Depois ia comemorar?
Carneiro – Quando a gente chegava, a comemoração era pinga. Lá perto do Zezão, tinha um bar, era churrasco e pinga.
Boteco – E o time era bom?
Carneiro – Uh, nós ficamos uma vez 35 partidas invictas, perdemos para um time de Aguaí, mas um time ruim! Fizeram um gol, veio todo mundo para trás, acabou.
Boteco – E quando perdia, também comemorava?
Carneiro – Perdeu, ganhar, era tudo uma coisa só, chegava no bar… E para acabar a história: acabava o jogo, o próprio dono do time adversário já dava um litro de pinga para nós. Montava no caminhão e já vinha bebendo no bico.
Boteco – E você, chegava a ir direto da noite para o jogo?
Carneiro – Aconteceram muitas vezes de eu amanhecer em baile, forró, aquele tempo tinha muito forró na sitiaiada. A gente ia, depois montava no caminhão e ia jogar. Só pegava o uniforme. Minha mãe xingava: “ê, Dona Lúcia”. Depois eu casei, aí fiquei mais caseiro.
Boteco – Alguma história da época do forró?
Carneiro – Uma vez a gente estava de bombacha, ia a pé pro baile. Não sei da onde que veio um tijolo no baile, acertou meu olho, ficou inchado. Vim embora para casa para jogar. Mas jogar o quê, com a cara desse tamanho? Só escalei.
Boteco – E o símbolo da Santa Luzia, como surgiu o olho?
Carneiro – Se a gente falar a gente dá risada, que pingaiada (risos)! Estava eu e o Valdomiro Preto no bar. Eu falei pro Valdomiro. Vamos fazer um símbolo. Mas o quê? Olhamos na Santa Luzia que estava na parede. Eu falei: um “zóio”. (Santa Luzia é a santa protetora dos olhos). Aí fizemos um prato, pusemos o zóio, todo mundo aprovou, fomos na loja e mandamos fazer. O símbolo é um prato e um zóio.
Boteco – Por que as cores vermelho e branco?
Carneiro – Estava naquela pingaiada. Tudo na base da pinga. Foi a ideia por causa de o time ser Santa Luzia e a camisa antigamente era verde, branca e vermelha. Depois tirei o verde, fica mais bonito, mas tem uma manchinha verde ainda. Camisa da Santa Luzia e Vila Dias são as mais bonitas.
Boteco – Carneiro volta para abordar a coleção de suspensões por agredir juízes e surpreende revelando que subornava árbitros para ganhar jogos, apontando alguns episódios de suborno.