sexta-feira, novembro 22, 2024
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Carneiro revela: comprava e batia em juízes de futebol

De volta ao Boteco, o dirigente da Santa Luzia, Walter Gomes, o Carneiro, aborda casos de suborno no futebol amador e suspensões por agredir árbitros.

Boteco – O senhor xingava muito os árbitros?

Carneiro – Eu batia em juiz. Fiquei seis anos suspenso porque batia em juiz. Mas ficava de fora, não tava nem aí.

Boteco – Foram seis anos seguidos?

Carneiro – Eu era punido, cumpria, voltava e batia de novo.

A expulsão era dois anos se desse um tapa no juiz, dava um branco e pronto. Era técnico, entrava lá, dava uns empurrões no juiz, uma vez eu dei um chute num juiz a hora que acabou o primeiro tempo. Eu estava na flor da idade, 27 anos. Ele roubou, deu um gol impedido. Depois terminou o jogo, ia saindo, ele vai e expulsa um jogador nosso. Eu já estava nervoso, virei para trás e dei um chute nele. Naquele tempo o Paulo Bolinha tomava conta da ACFAMM (Associação de Clubes de Futebol Amador de Mogi Mirim). O Paulo chegou em mim: “Carneiro, agora você me faz um favor, você não pode mais ficar no campo hoje”. Eu fiquei dois anos expulso. Aí passou mais um ano, liberou, briguei de novo. Mas a juizada era muito ruim.

Boteco – E tinha sacanagem também ou era ruim mesmo?

Carneiro – Sacanagem toda vida teve. Eu mesmo paguei muito juiz. Contra a Cloroetil, paguei um juiz do Guaçu. Fui na casa dele. Ele pegou. Ganhamos o jogo de 1 a 0.

Boteco – O que ele fez?

Carneiro – Ele matou o jogo no meio-campo, nós ele soltava, a Cloroetil ele dava falta.

Boteco – Eles não perceberam?

Carneiro – Não perceberam. Depois na final contra o Leiteiro (ex-presidente da Santa Cruz) não teve jeito. Foi ele mesmo que apitou. Chegou no vestiário, me chamou, chamou o Leiteiro: “oh, não tem boi para ninguém hoje”. E expulsou um jogador nosso, o TG, mas o jogador errou mesmo.

Boteco – Os outros times também faziam?

Carneiro – Era só ter o dinheiro no bolso. O que mais vendia o jogo foi campeão junto comigo, na Santa Luzia. No dia que eu fui expulso, ele tava no banco escalando o time para mim. Podia apitar e jogar.

Boteco – Mas todos conheciam quem se vendia?

Carneiro – Ah, conhecia. Tinha um que em troca de um frango se vendia. Lembro uma vez no Rural, ele ganhou duas leitoas de um time para ganhar o jogo, foi campeão o time. Duas leitoas e nós ajudamos a comer a leitoa ainda.

Boteco – Hoje ainda acontece?

Carneiro – Nunca insisti, mas acho que tem. Tem muito juiz que você chega aí, não vou citar o nome… Dá pra desconfiar. Dá muito amarelo pra um time e pro outro não. Porque juiz segura o jogo. Se ele dá quatro cartões para um time só, o cara já não pode entrar mais.

Boteco – Quando perdia, os jogadores eram cobrados?

Carneiro – Era, o mais cobrado era eu. Eu tinha que sair no pau com a torcida, brigar. Eles vinham, em cima. Uma vez no Mirante, o rapaz saiu no tapa comigo no barzinho, se eu não brigo, eu apanhava, eram fanáticos, torcida brava.

Boteco – E também compravam jogadores para jogar mal?

Carneiro – Nunca, só o juiz. Uma vez nós sondamos um juiz na porta do banco, pegamos o cheque da mão dele, ele ia trocar, tinha ganhado do presidente de um time. Levamos na Liga, ganhamos os pontos. Faz muitos anos. Ele ia trocar o cheque e nós ficamos esperando na porta do banco.

Boteco – Carneiro volta para o último capítulo de suas histórias, relembrando 1986 com a final contra a Santa Cruz e a festa no único título da Santa Luzia na Primeira Divisão.

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