Em tempos de crise econômica e de políticas públicas que contribuíram para a assolação da miséria e a volta em grande volume da fome – que atinge cada vez mais brasileiros – o senso de contribuição com o próximo passa a ser um compromisso contínuo. Porém, para que a comunidade católica não se esqueça desta orientação bíblica, foi criado em 2016 o Dia Mundial dos Pobres.
A data será lembrada neste ano no dia 13 de novembro. Em nota oficial, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) destacou à sua Comissão Episcopal Pastoral para a Ação Sociotransformadora, com as Pastorais Sociais e Organismos, a responsabilidade pelo lançamento do material para favorecer a preparação em forma de jornada para a vivência, convivência, reflexão e ação do VI Dia Mundial dos Pobres.
O Papa Francisco em sua mensagem deste ano escolheu o texto bíblico para motivar a reflexão: “Jesus Cristo fez-se pobre por vós” (cf. 2 Cor 8, 9). A intenção com o convite é manter o olhar fixo em Jesus, que, “sendo rico, se fez pobre por vós, para vos enriquecer com a sua pobreza”.
Já o tema escolhido pela Igreja do Brasil para animar a sexta jornada é: “Dai-lhes vós mesmos de comer!”, em consonância com a Campanha da Fraternidade de 2023, que vai trazer o tema “Fraternidade e fome”, e o lema “Dai-lhes vós mesmos de comer”, seguindo as escrituras do evangelista Mateus, em 14, 16.
O material pretende ajudar na reflexão e ação em atenção à realidade das pessoas em situação de pobreza no Brasil e no mundo. Apesar de a América Latina e o Caribe estarem entre os maiores exportadores de alimentos do planeta, neste momento há 56,5 milhões de latino-americanos e caribenhos que passam fome e 268 milhões de pessoas com insegurança alimentar moderada ou grave, segundo dados da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO).
Em junho deste ano, a Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede Penssan) revelou que 33,1 milhões de pessoas no Brasil não têm o que comer. Isso significa que, seguindo os dados coletados, 15,5% da população brasileira sente fome e não come por falta de dinheiro para comprar alimentos.
Além do mais, seis em cada dez famílias estão em situação de insegurança alimentar, isso significa que estão na condição de não ter acesso pleno e permanente a alimentar-se. Esses dados foram colhidos em 12.745 domicílios brasileiros entre dezembro de 2021 e abril de 2022. Diante isso, a CNBB enfatiza que os cristão devem ser interpelados a voltar o olhar e à escuta atenta para a provocação de Jesus Cristo, que convida a todos à solidariedade dizendo “Dai-lhes vós mesmos de comer”.
“Na realidade, os pobres, antes de ser objeto da nossa esmola, são sujeitos que ajudam a libertar-nos das armadilhas da inquietação e da superficialidade [..] A pobreza que mata é a miséria, filha da injustiça, da exploração, da violência e da iníqua distribuição dos recursos.”, denuncia o Papa Francisco na sua mensagem para este ano.
História
No dia 20 de novembro de 2016, na conclusão do Ano Santo Extraordinário da Misericórdia, o Papa Francisco instituiu o Dia Mundial dos Pobres. Na mensagem de lançamento ele disse: “Este dia pretende estimular, em primeiro lugar, os crentes, para que reajam à cultura do descarte e do desperdício, assumindo a cultura do encontro. Ao mesmo tempo, o convite é dirigido a todos, independentemente da sua pertença religiosa, para que se abram à partilha com os pobres em todas as formas de solidariedade, como sinal concreto de fraternidade”.
No Brasil, nos primeiros anos, a CNBB confiou à Cáritas Brasileira a animação e a mobilização do Dia Mundial dos Pobres. A entidade, nesse período, já realizava a Semana da Solidariedade – para pensar e agir por um país justo, fraterno, igualitário, solidário e amoroso, por ocasião de seu aniversário de fundação, 12 de novembro de 1956. A partir da III Jornada Mundial dos Pobres, as Pastorais e Organismos Sociais ligados à Cepast-CNBB, assumiram coletivamente a animação e mobilização do Dia Mundial dos Pobres.