No terceiro capítulo de seu bate-papo no Boteco, o mestre de jiu-jitsu, Nilton Cadan, recorda histórias inusitadas.
Boteco – Em treinos, você já passou por algo inusitado?
Cadan – Uma vez, veio um senhor de mais idade fazer aula. Muito interessado pelo jiu-jitsu, tive uma atenção muito especial com ele, muito educado. Comecei a mostrar os golpes, ele adorando, chave de braço, queda. A hora que falei: “Vou mostrar o estrangulamento”. “O quê?”. “Estrangulamento”. “Você vai apertar meu pescoço?”. “É, vou mostrar”. “Não, não, não. De jeito nenhum, meu pescoço ninguém bota a mão. Você me desculpa, mas vou embora”. Trocou de roupa e foi, nunca mais voltou. Acho que achou que eu ia matar ele, sei lá, tinha um trauma com pescoço, sumiu, nunca mais vi. Outro aluno também, eu me coloquei no lugar, a mãe falou: “É tímido, não se entrosa”. Eu falei pra mãe: “Já vi isso, aconteceu comigo”. E o moleque era muito tímido. E não queria treinar com ninguém. Eu peguei o moleque, treinei: “Você vai lutar comigo”. Ele era grande.
Boteco – Você contou pra ele que era tímido também?
Cadan – Contei, toda a história, só que ele era grande, gordinho, muito forte, tinha uns 12 anos, mas pesava quase 100 quilos, enorme o menino: “Você vai lutar comigo”. “Tá bom, mestre”. E jiu-jitsu é a luta de grappling, de agarrar, derrubar, imobilizar, finalizar, tal. Não vale golpes traumáticos, soco, chute. E eu ensinei tudo, as primeiras coisas, e vamos fazer lutinha, já era a segunda, terceira aula dele, já tinha acompanhado algumas. Fiz a saudação. No que eu fui segurar no kymono dele, ele me deu um tapa na cara (risos). Um tapa que até estalou, ficou aquele silêncio na academia, até a música que o cara tava tocando de fundo parou. Aquilo subiu o sangue na minha cabeça, falei para um aluno: “Entra no meu lugar, por favor, explica para esse moleque”. Entrei no meu escritório, quase quebrei a mesa de ódio, mas me controlei, voltei pra aula, expliquei para ele que não podia dar tapa. Eu não sei o que passou pela cabeça dele, sei que bateu e forte. Mas para não revidar, você tem que usar toda sua calma. Depois, a gente deu risada, (ele) entendeu, só não sabe dizer porque me deu um tapa, deu um branco nele, acho que falou: um cara desse tamanho, faixa preta, vou dar na cara. Mas hoje eu fico esperto, quando eu vou fazer com aluno novo, protejo, faço uma guarda, fico esperto.
Boteco – Alguma história de arbitragem?
Cadan – Eu fui uma vez apitar em Campinas e tinha uma equipe muito competitiva e não muito educada. E xingava os árbitros, mas de xingar, tudo bem, você tá focado. Aí eu escutei um integrante da torcida me xingando além do limite. Quando fui dar uma olhadinha, eu só vi uma coisa voando em minha direção, abaixei, passou raspando, um Rider, 44, quase me atingiu, foi cair lá na outra área (risos). Aí eu fiquei louco, queria ir pra cima da torcida, mas me seguraram, graças a Deus, senão eu ia ser linchado.
Boteco – Nessas competições, os pais também gritam?
Cadan – Gritam, pais, mães…. Tem mãe que invade o tatame. “Não vai bater no meu filho”. Já vi mãe invadir para tirar o filho do tatame. Imagina a vergonha da criança. O juiz fica assim… “Não, senhora, calma”. A mãe: “Vai bater no meu filhinho”. Mãe não dá certo em competição, ela acha que vai bater no filhinho e, às vezes, vai, mas tudo dentro da regra.
Boteco – Cadan volta, no último capítulo de seu bate-papo, com a aventura dos 3 Samurais, com Hulk, em um Regionais.