Por Paulo Loiola*
Mesmo em um momento histórico em que somos bombardeados o tempo inteiro com crises reais e imaginárias, corrupção, desleixo de governos e flertes com o autoritarismo, grande parte da população pouco se importa com política. Segundo levantamento da CNT feito em outubro de 2020, cerca de 50% dos brasileiros têm pouco ou nenhum interesse em política.
O relatório do instituto Variações da Democracia (V-Dem), ligado à Universidade de Gotemburgo, na Suécia, indicou que o Brasil foi o país que mais se afastou da democracia em 2020. De acordo com o índice, no qual 0 representa um regime ditatorial completo e 1 a democracia plena, o Brasil hoje registra pontuação de 0,51, uma queda de 0,28 em relação à de 2010, que ficou em 0,79.
O resultado de cada país vem de 450 indicadores diferentes, que medem aspectos como o grau de liberdade do Judiciário e do Legislativo, liberdade de expressão, a disseminação de informações falsas por fontes oficiais, repressão a manifestações da sociedade civil, liberdade e independência de imprensa e a liberdade de oposição política. No G-20 somente Brasil, Turquia e Índia regrediram no índice, podendo ser considerados autocracias.
Questionamentos ao sistema político, necessário para manter líderes com tendências autocráticas no poder, são utilizados em demasia pelo atual governo brasileiro, alinhado com as piores práticas mundiais. Esse sentimento de enfrentamento do sistema e da criação de um inimigo, muitas vezes imaginário, é essencial para manter as hordas motivadas para o próximo ataque a quem ousar discordar do grande líder.
No início de 2020, 62% dos brasileiros diziam que democracia é sempre a melhor forma de governo, esse índice caiu 7 pontos desde outubro de 2018. Para 12% ditadura é preferível em certas circunstâncias e 22% acham que tanto faz, números alarmantes para uma jovem democracia que não tem tido dias fáceis.
Por isso é cada vez mais necessário comunicar os benefícios, diminuir a tensão entre os atores do campo democrático e modificar nossas leis visando fortalecer a independência das instituições e dos funcionários públicos.
Esse efeito de descrédito da política acabou trazendo para o sistema político muitos perfis que possivelmente não sejam os mais adequados à democracia, não será pequeno o esforço envidado para retirá-los, e certamente serão muitos anos para superar totalmente os estragos causados.
Que nossos políticos tenham coragem, que a população pressione, que os partidos não sejam covardes frente ao enorme desafio que está colocado, nossa democracia está no canto do ringue, mas ainda pode vencer.
*Paulo Loiola é administrador e mestre em gestão pública pela FGV