sábado, novembro 23, 2024
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Comoção subjetiva e modismo

Embora possa também ser considerado um ato de interesse individual na medida em que tem o poder de fazer bem à consciência e gerar sensações agradáveis ao indivíduo ativo, a solidariedade vai obviamente sempre além do cidadão, pois oferece uma colaboração a alguém. Ela pode ser específica ou coletiva com campanhas para ajudar um grupo. A coletividade pode existir no aspecto de grupo a ser ajudado como no sentido de quem colabora em conjunto. Cada indivíduo deve ter a liberdade para ajudar quem bem entender, sem constrangimento. Solidariedade não é obrigatória e se torna um gesto mais nobre quando espontâneo.

Na sociedade, há ocasiões em que determinados acontecimentos favorecem um envolvimento maior. No caso de Mariana-MG, por exemplo, a dimensão do desastre por si só é capaz de gerar uma comoção. Evidentemente, que a ampla e constante divulgação na mídia ajuda a aumentar o interesse. Alguns acabam ajudando por modismo para se sentir inserido na onda de apoio em alguns casos até por marketing pessoal. Outros, porém, colaboram de forma pura. Outro fator é que campanhas, por terem uma liderança, facilitam a colaboração. Em uma situação de necessidade em que uma campanha não ocorre, é mais difícil para o cidadão ajudar, pois teria que tomar uma iniciativa de maior abrangência.

Recentemente, o vereador Luís Roberto Tavares, o Robertinho, afirmou que não houve a mesma comoção de Mariana em relação à destruição de duas residências no Parque das Laranjeiras. De fato, pode se observar certo sentido ao se considerar existir certa acomodação da comunidade de forma geral com o Parque das Laranjeiras por ser um local cuja situação caótica se tornou tão constante que teve a capacidade de gerar indignação comprometida.

Da mesma forma, o Poder Público não pode fugir de sua responsabilidade. Por outro lado, o caso de Mariana tem chegado mais à população do que a de famílias das Laranjeiras e campanhas da mesma forma em relação à cidade mineira são mais conhecidas, facilitando quem deseja ajudar. Não se pode esquecer, por outro lado, que uma família das Laranjeiras foi alvo de uma campanha do grupo de voluntários Amor em Ação visando a construção de uma casa.

Além das questões de divulgação coletiva e modismo, também é preciso ressaltar que a capacidade de se sensibilizar com cada situação também depende de características individuais subjetivas. O mesmo vale para a questão envolvendo os ataques a Paris.

Campanhas de solidariedade são positivas e podem conviver bem entre si. Lideranças podem surgir de acordo com o que sentem. A solidariedade não pode ser imposta e nem servir para constranger. O ato nobre de ser solidário ganha mais valor na medida em que cresce a espontaneidade. Reflexões individuais sobre quem merece ajuda, porém, são bem indicadas, podendo apontar beneficiados até então ignorados pelo comodismo de se aguardar um alarde midiático.

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