Um dos maiores desafios de educar um filho é saber separar até onde devemos intervir para que não se machuquem e em que momento é hora deles viverem sozinhos as consequências das próprias escolhas. É a história do dedo na tomada desde que são pequenos. Você tira a mãozinha, fala “não” inúmeras vezes até que numa bobeada acontece o choque.
E, se estando sob o nosso controle, que é revestido de amor, acontece, só fica mais frequente à medida que vão se formando como indivíduos, que o cordão vai ficando fino e que nos posicionamos mais na base que à frente. Trocando em miúdos, quanto mais eles crescem e caem no mundo, naturalmente vão estando menos fisicamente ao nosso lado e longe dos olhos, menos chance temos de “sair correndo e levantar pelo bracinho antes que caiam no buraco”.
Tem quem aprenda sem traumas, porém, embora nada indolor, eles são significativamente responsáveis por nos tornarmos gente. E, quando nós pais ocupamos mais espaço que deveríamos nesta equação, contribuímos para que se tornem pessoas menos resilientes, maridos mimados, amigos insensíveis e filhos egoístas.
Eu me lembro de uma excursão de escola para o zoológico, devia ter uns 13 anos e escolhi ir com uma sapatilha nova. Como era uma viagem eu queria estar vestindo o melhor que eu tinha. Minha mãe sugeriu que eu fosse com o tênis que já estava acostumada, que além de ser melhor para andar muito, certamente não machucaria meu pé. Claro que não ouvi e claro que deu ruim para o meu lado.
Mal tinha descido do ônibus meus pés já estavam cheios de bolha, ficava o tempo todo tentando encaixá-lo nos sapatos de modo que conseguisse andar. Aliás, isso ficou muito mais forte na minha memória do que viver aquele dia com os amigos e a imagem dos animais. Aí você pensa: “pelo menos tudo isso serviu de aprendizado”. Não.
Outra vez aconteceu no show da Ivete Sangalo. Eu queria muito, muito, muito mesmo estar ali, esperei demais por aquele dia, mas isso não impediu que, mais uma vez, fizesse uma escolha ruim. Eu fui com um salto que mais parecia a perna de pau do personagem de circo e o resultado é que não curti nada além, é claro, do medo de perder uma unha com um belo pisão numa multidão de ‘quinhentas mil pessoas por metro quadrado’. E de novo não foi por falta de conselho da minha mãe…
Imagina quantas vezes não fiz isso como filha? Inúmeras! Embora tenha aprendido com a lição do sapato, acreditem, repeti. Aí, na preguiça de pagar pelo preço das coisas, colocamos Deus em cheque: “mas Ele não está vendo?” Está, assim como minha mãe estava e deixar que meu pé machucasse era o melhor que ela podia fazer.