A desesperança dominou tanto a maior parcela da população mogimiriana que assistimos a morte do Mogi Mirim Esporte Clube como cobaias de um experimento psíquico. As notícias que antes geraram ojeriza, hoje parecem não nos golpear como antes. Nos acostumamos a ver a retirada lenta e cruel dos aparelhos de um paciente indefeso e que, mesmo com 120 anos, parece disposto a lutar, mesmo que sozinho, contra tudo de mal que é feito contra ele.
Mais um capítulo cruel desta saga de terror pela qual passa o maior patrimônio desportivo, cultural e imaterial de Mogi Mirim será escrito nos próximos dias. É que, de acordo com edital de convocação publicado recentemente, haverá um novo pleito no Sapão da Mogiana. Eleições protocolares, apenas para reconduzir Luiz Henrique de Oliveira à mesma presidência que ocupa desde julho de 2015 e para formar sua nova escalação de colegas na diretoria executivas e nos conselhos Deliberativo e Fiscal. Agora, com a reforma do Estatuto Social, a tragédia será mais longa e o mandato de 1º de janeiro de 2024 a 31 de dezembro de 2027.
Um quadriênio a mais para a diretoria que jogou Mogi Mirim no limbo, que tirou o Alvirrubro mais respeitado do Interior da elite e o lançou às profundezas do futebol paulista e brasileiro. Tirou o clube das divisões nacionais, o rebaixou sadicamente da Série A1 do estadual para o quinto degrau, algo que não ocorria desde 1979, tempos pré-Barros e em que o desleixo era semelhante, incluindo um episódio de incêndio e arquivo queimados. A prática não ocorre em sua forma literal, mas é interessante o quanto se apaga do MMEC a cada ano de LHO no poder.
O continuísmo é sempre letal e não tem sido diferente com o Sapão. E pode até fazer sentido com Wilson de Barros, um dirigente fora do normal e que sacou o Mogi das profundezas para, entre 1982 e 2008, alça-lo a um patamar tão alto que o fez, também, ser visto por oportunistas de todos os cantos do país. A dilapidação segue em curso. O orgulho e carinho do mogimiriano pelo seu Carrossel Caipira vai sendo arrancado ao mesmo tempo em que os órgãos do Sr. Mogi Mirim Esporte Clube são extraídos enquanto a vítima ainda vive.
Por azar da maioria, a Justiça foi desleixada, as autoridades policiais e o Ministério Público perderam a chance de resgatar uma agremiação do cativeiro e terem suas atuações eternizadas como exemplo para que mais clubes não sejam enterrados vivos como o Mogi vem sendo. Jogado às degolas, perdido em divisões inferiores, afogado em dívidas assumidas por quem jamais será responsabilizado por tê-las contraído. Um clube que tem na própria Justiça decisão com trânsito em julgado dando direito a antigos associados de participar da vida social do clube, incluindo eleições, verá, mais uma vez, a hipocrisia prevalecer.
O clube que viu a Procuradoria de Justiça Cível do Ministério Público, dizer que, “na impossibilidade de atendimento do Estatuto Social, a solução deverá ser buscada por meio judicial, se necessário, com a designação de administrador provisório, com poderes para convocar regularmente assembleia e organizar o quadro social a fim de possibilitar o cumprimento das disposições estatutárias”, acompanhou uma intervenção que daria segurança jurídica ao clube se tornar pó devido a decisões equivocadas da Justiça.
A eleição deste final de semana reunirá só uma parcela dos associados do clube. Seguirá a linha que está balizada por sentenças judiciais que, em tempo, serão revisadas para o bem da instituição. Porém, até lá, o Mogi Mirim EC seguirá refém do caos. Um caos que, no papel, terá mais quatro anos para seguir nas últimas divisões e distante de seu lugar de direito.