sexta-feira, novembro 22, 2024
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Contra os homens que violam e abortam

Nas últimas semanas houve uma escalada sobre um assunto pra lá de complexo: o aborto. O tema sempre foi complexo por envolver religião. E, desde jovem, aprendemos a máxima: futebol, política e religião não se discute. Algo bem ultrapassado, mas que impede que se torne tabu falar sobre pautas relacionadas a estes assuntos.

E é óbvio que cada um tem o direito de ter a sua visão. Não só sobre o aborto, mas a respeito de qualquer assunto. Desde que não infrinja leis, tudo certo. E desde que não seja desumano, atacando o outro por uma ideologia. Infelizmente, não foi isso o que vimos. Além das brigas entre quem pensa “assim” e quem pensa “assado”, sobrou para as vítimas de dois casos expostos nos últimos dias.

O da menina anônima de 11 anos, estuprada e que teria direito ao aborto legal, seguindo o que a Constituição Federal diz, mas que viu seu desejo e direito – e de sua família – negado após passar pelas mãos de profissionais como médico, promotora de justiça e juíza. Depois, veio à tona o caso da atriz Klara Castanho, que engravidou após ser estuprada e fez uma doação legal. Ela queria sigilo, o processo correu em segredo de justiça, mas foi vazado por profissionais de um hospital e a vida dela, assim como a bebê, foi exposta.

Não vamos aqui focar em opinião. Nas embasadas em visão religiosa, política ou científica. Vamos aos fatos. Ao simples fato de olhar que a gravidez, nos dois casos, foram consequências de um crime. Elas foram abusadas. Elas foram estupradas. Elas são, acima de tudo, vítimas! E precisam de apoio, não de ataque.

Os homens que causaram essa dor, esse trauma eterno a elas, seguem fora do radar. São beneficiados pelo machismo que impera em nossa sociedade. Não dá para contestar o quanto há de vantagem em ser homem. Em vários sentidos. E, quando tratamos desta coisa nojenta, vomitativa e horrorosa que é um abuso sexual, são elas as que correm o risco de carregar um fruto eterno oriundo daquele que costuma ser o pior momento das vidas delas.

E são elas expostas ao aborto e aos julgamentos. E quantos homens abortam? Milhares. Milhões. Estupram e abandonam a vítima à própria sorte. Ou mesmo que haja consentimento, somem da vida da criança e deixam a mulher para ser mãe solteira. Inúmeros homens abortam o tempo inteiro e não sofrem com nenhuma das consequências deste ato. Não é julgado por alguém com visão religiosa, política ou científica a respeito do tema.

Eu que aqui vos escrevo sou homem. E sou um privilegiado. Não deveria ter um pingo de direito de opinar sobre algo que recai exclusivamente sobre as mulheres. Ainda mais em casos em que ela não só é largada à própria sorte, como foi vítima de um dos crimes mais cruéis possíveis.

É por isso que a precisamos substituir a nossa visão engessada, se pensamos isso ou aquilo sobre o aborto, incluindo, claro, o aborto legal e focar para que os responsáveis por estupros, abusos e tudo mais sejam duramente combatidos. E mais. Sabemos que estes abusos acontecem dentro de casa. Cometidos por pessoas próximas.

O que só aumenta o nojo e deveria juntar as vozes que gritam para um lado e para outro contra as mulheres que desejam abortar para repudiar aqueles que estupram. Para causar nos homens que abortam ao abandonar suas parceiras e seus bebês o mesmo sentimento que estas mulheres, que têm o corpo e a vida violados por uma sociedade que precisa evoluir, cuidar e amar mais!

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