Acompanhar a seleção brasileira na Copa do Mundo da sala de espera de um hospital está longe de ser a alternativa dos sonhos, mas se torna a opção encontrada por uma gama de torcedores. A maioria é motivada por situações de emergência com parentes, mas há quem defina a estratégia de aproveitar um horário de movimento reduzido para ser atendido mais rapidamente.
Este foi o caso de Jefferson Willian Fernandes, que assistiu ao empate em 0 a 0 entre Brasil e México na Santa Casa. Depois de ser atendido rapidamente, permaneceu para aguardar o resultado de um exame: “Estou matando o tempo aqui, eu já imaginava que viria pouca gente, foi uma estratégia”.
Apesar da tranquilidade reinante, um atendimento de emergência ao final do primeiro tempo gerou correria, com uma paciente recebendo uma massagem cardíaca, o que assustou os poucos que assistiam. “Não tem jeito, perdi até o pique de ver o jogo”, reclamou José Carlos Alves Ribeiro, que acompanhava um irmão. “Eu preferia estar assistindo em casa, tomando uma cerveja no sofazinho. Minha mulher não deixa eu assistir em bar porque tem medo de briga”, contou.
Curiosamente, a emergência com o filho de 18 anos acabou ajudando o pai Antonio Carlos Garcia a assistir alguns trechos do jogo no Hospital 22 de Outubro. Garcia não sabe se conseguiria ver o jogo no serviço. Como teve que sair às pressas, conseguiu assistir um pouco, mas dividindo as atenções com o filho, que tomava soro. “Ele pegou no sono, eu aproveitei para dar uma olhadinha”, explicou.
Já Reinaldo Silva chegou ao 22 de Outubro com a filha Giovanna durante o segundo tempo e não desgrudou o olho da televisão, participando ainda das conversas sobre o jogo envolvendo outros torcedores e até uma recepcionista, que transformaram a recepção em uma espécie de mesa redonda futebolística. Com o rosto pintado de verde e amarelo, a menina estava no clima da Copa, mas necessitou de atendimento médico. A família assistia ao jogo na casa da mãe de Reinaldo. “Ela tinha consulta amanhã, mas não deu para esperar. Estava a maior bagunça, todo mundo curtindo”, lamentou.
Movimento em jogo do Brasil cai drasticamente
Os jogos da seleção brasileira na Copa do Mundo proporcionam ao Pronto Atendimento dos hospitais uma calmaria diferente da habitual. No 22 de Outubro, foram atendidos exatamente 10 pacientes entre as 16h e 18h desta terça-feira, horário de Brasil x México. “Geralmente esse horário é uma loucura. Costuma ter umas 30 pessoas, chega a 40 até”, comentou a recepcionista Tatiane Godoy, lembrando que no primeiro jogo do Brasil não houve atendimento algum.
Na Santa Casa, pela média, aproximadamente cinco pacientes haviam sido atendidos na terça-feira, no primeiro tempo. “Geralmente, são de 15 a 20 pacientes por hora, em horário de pico dá muito mais”, comenta o enfermeiro Roberto Pacheco, que aproveitava os momentos sem atendimento para dar uma espiada na televisão.
Para outros funcionários, assistir ao jogo era mais complicado. “Eu gosto, mas não dá tempo, a limpeza não tem como parar”, lamenta a servente Flávia Aguiar, que limpava a Santa Casa, enquanto sua família se reunia para acompanhar o jogo. “Dá vontade de estar com eles”, admite.