Conforme a Covid-19 agrava o quadro do paciente infectado por coronavírus, novos sintomas se somam àqueles já conhecidos. Além da síndrome respiratória aguda, que afeta o pulmão, muitos pacientes apresentam problemas neurológicos, renais e até mesmo hematológicos. Nesse contexto, a trombose atrelada à Covid-19 vem se tornando uma complicação recorrente em pacientes internados em Unidades de Terapia Intensiva (UTI).
A descoberta foi possível graças à identificação de altos níveis de dímero-D nos pacientes graves de Covid-19. A substância é produto de degradação da fibrina. Logo, sua dosagem, em avaliação laboratorial, pode indicar processos como trombose venosa, tromboembolismo pulmonar e sepse. Entrevistamos a cirurgiã vascular Dra. Danielle Bernardes para esclarecer dúvidas sobre a relação entre a Covid-19 e a Trombose.
Qual a relação entre a Covid-19 e a trombose?
A infecção pelo Coronavírus está associada ao risco de trombose venosa ou arterial. Além da síndrome respiratória aguda, que afeta o pulmão, alguns pacientes apresentam complicações vasculares neurológicas, cardíacas e nas extremidades dos membros. Este processo ocorre devido à reação inflamatória intensa do organismo em resposta ao vírus, desencadeando distúrbios de coagulação graves, que levam à formação dos trombos.
Como o coronavírus pode causar a trombose?
A trombose é uma complicação que ocorre por ação direta do coronavírus nos vasos sanguíneos, levando a um dano importante dos vasos (lesão endotelial). Além disso, ocorre uma resposta exagerada do sistema imunológico ao vírus, que causa um quadro de hiperinflamação sistêmica com ativação da coagulação de forma desordenada (imunotrombose). Então também ocorre um processo de coagulação excessiva dentro de artérias e veias, formando trombos que obstruem a passagem de sangue para territórios importantes do corpo. A falta da irrigação adequada (que traz nutrientes, oxigênio e retira resíduos e toxinas do corpo), leva a um dano grave no órgão afetado. Nos pulmões causa infarto pulmonar, no coração trombose das coronárias, no cérebro trombose cerebral e nas pernas trombose dos membros, por exemplo.
Todo paciente infectado pela Covid-19 vai desenvolver trombose?
Não. A maioria dos infectados serão assintomáticos ou apresentarão os sintomas leves da Covid-19. O maior risco de desenvolver trombose ocorre em pacientes que estejam em estado grave, imobilizados em UTI, sob ventilação mecânica ou condições de risco, como doenças pré-existentes – problemas cardíacos, hipertensão, diabetes, obesidade. A gestação também é um fator de risco, assim como pessoas que tenham sido submetidas a cirurgias ou traumas recentes.
Como está sendo realizado o tratamento da trombose nos casos de Covid 19?
O uso dos anticoagulantes (como a heparina) já vêm sendo realizado no tratamento da infecção pelo coronavírus nos pacientes na fase moderada e grave da doença, baseados nos protocolos institucionais dos hospitais. Nos casos confirmados de trombose indicamos a anticoagulação terapêutica plena desde que não haja contra-indicação e risco de sangramentos.
Podemos usar de maneira preventiva os anticoagulantes para evitar trombose??
O uso indiscriminado da profilaxia farmacológica de trombose não deve ser realizado sem avaliação médica individualizada.
