Chegar em casa com um recém nascido nos braços está entre as lembranças mais doces que guardo dentro de mim. Daquelas que tiram suspiro. O que eram apenas coisas e foram escolhidas com tanto zelo agora ganham vida. Como num passe de mágica, tudo muda de valor e uma semana depois a gente nem lembra mais como era antes.
Vamos vivendo novos papeis e aprendendo na prática a lidar com eles. Os horários mudam, o sono não é mais o mesmo, nem as refeições, nem a forma de lavar a roupa, que agora precisa de sabão especial. Ao mesmo tempo que aquele serzinho traz à tona o amor transformador que jamais havíamos tido contato e a realização, na mesma proporção provoca um tsunami com as emoções.
Eu lembro bem de sentir que nunca mais conseguiria conversar com alguém outro assunto que não fosse a maternidade. Eu ficava tentando buscar na memória se ainda sabia de coisas que sabia, tipo o que aprendi na faculdade, era no trabalho, opinião política. Além de tempo, não tinha concentração para ler nada que não fosse bula de remédio.
Também ficava pensando que nunca mais faria nada sem ser interrompida, nenhuma tarefa do começo ao fim, sem curvas. Naquele momento, eu não sabia nem quando tinha lavado o cabelo pela última vez e como minha pele era antes de cheirar a leite.
Na madrugada, quando acordava com o bebê chorando, às vezes me perdia. Não sabia se estava chorando de novo ou se era o mesmo choro e eu que não tinha conseguido sair da cama. Aquela confusão!
Enquanto isso, o marido… marido? Que marido? Por uma fase você convive com o pai do seu filho e só. E tudo se potencializa, já não se reconhece como mulher e as inseguranças gritam. Fisicamente ainda há o ballet de hormônios responsáveis pela libido, pelos cabelos caírem e pelas unhas enfraquecerem.
A maternidade é um grande milagre. Nada no mundo se compara a gerar uma vida. Ao que é formar uma criança nas suas entranhas, se reconhecer em traços dela enquanto dorme no berço e aquele serzinho banguelo. Mas sim, tem uma contrapartida que muitas vezes é vendida como romance, mas não é. Machuca. Temos que falar sobre isso, humanizar, normalizar, tirar as mordaças que usamos na tentativa de nos sentirmos melhores mães, de sermos imaculadas.