sábado, novembro 23, 2024
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De herói a bandido

A tecnologia ajuda a manter as lembranças mais vivas. Isso do Google ficar mostrando suas fotos de “x” anos atrás é uma delícia. Em se tratando de mãe, adivinhem o que são a maioria das minhas imagens? Crianças aprendendo a bater palmas, dando “uta”, fazendo a maior festa assoprando uma velinha, mandando beijo de peixinho e tantas outras doçuras.

O fantástico da mente humana é que ela é capaz de te levar de volta para aquele lugar de forma completa, com todas as sensações e sentimentos. Agora, no meio do turbilhão de novidades que envolve ter dois adolescentes em casa, confesso que, às vezes, são essas memórias que me fazem recuperar o sentido.

Luto diariamente com esse processo de ser cada dia menos necessária e de a minha opinião ter tanto valor como a de alguém que conheceram há poucas horas.

De longe essa é a fase mais cansativa e olha que achei que não poderia ter nada mais exaustivo do que ficar rodando o restaurante inteiro atrás de um ser de meio metro – mesma altura das quinas – que não tem medo de nada e nem é prudente, ficando se arrastando pelo chão em que milhares de pessoas pisam.

Que fique claro que não tenho grandes problemas. Gabi e Neto são responsáveis, não me dão trabalho com bebidas em excesso, drogas ou más companhias. Também não são respondões. Trato aqui apenas do sentimento de distância que fica tão forte durante este período, como se, de um dia para o outro, eles acordassem nos sentindo inadequados. Aquele sorriso apaixonado da primeira infância dá lugar à careta do “que saco”.

De repente você não é mais a pessoa que eles querem dividir as horas do final de semana e nem a que os conhecem a fundo, como a amiga fulana de tal. Se for fazer um churrasco, melhor que seja com a galera.

Pode soar como ingenuidade, mas eu não imaginei que fosse passar por isso, juro! Sempre fomos nós quatro para praticamente tudo e para que as coisas funcionassem, precisávamos trabalhar como uma engrenagem de motor. Eu e o Alisson nunca tomamos uma decisão sem que fossem explicados os motivos e levado o ponto deles em consideração.

Para mim uma relação como esta não acarretaria em outra coisa que não intimidade suficiente para não precisar competir com nada. Achei que seríamos para sempre fechados como uma gangue! #sóquenão.

Aquela menina que pegava seus sapatos para andar pela casa fingindo ser você, agora acha todos brega. Aliás, quase tudo seu é chinfrim: a marca da maquiagem, o modelo da blusa, o colar, o brinco e a forma como você combina tudo isso. O menino que achava que você era uma heroína capaz de saber onde está tudo, hoje pensa que você não precisa de um celular com muito recurso porque não vai saber usar.

Mas são também as memórias, agora como filha, que me acalmam na certeza de que o tempo é o melhor dos remédios. A gente só tem a coragem do afastamento porque carrega com ele a base sólida da qual somos feitos. Sabemos o nosso lugar. Falo com experiência de causa.

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