Em maio fez 20 anos que sou casada. Pensei muito, muito mesmo se escreveria esta coluna. Não é fácil dividir nossas fragilidades, deixar que ela extravase as paredes de nossa casa. Além de expor, enfrentar o olhar de quem sabe que é seu leitor, que faz questão de carinhosamente dividir isso com você.
Mas, corajosamente o faço, porque meu intuito aqui sempre foi tentar deixar mais leve o dia a dia que tantas vezes nos engole. Quando decidi abrir nossa rotina, o fiz para que, ao ler, você pudesse sorrir e compreender que viver é desafiador, mas podemos rir disso, podemos aceitar nossas dores e vulnerabilidades em um mundo que cada vez mais prega relacionamentos líquidos e felicidade a qualquer custo.
Como as coisas sempre acabam em sarcasmo entre nós quatro, intitulei esse aniversário como “a volta dos que não foram”. É isso, quase não deu. Além da morte da minha vó e da mudança de cidade da Gabi, uma interferência de parte da família me levaram para o inferno. Tive dias sombrios e, como toda pessoa acuada, morri atirando e acertei em cheio o meu casamento.
A nossa marca sempre foi o companheirismo e o cuidado com o outro. Desapareceu! E aqui gostaria que prestassem muita atenção no que vou dizer. Ter um relacionamento sadio é uma escolha constante, praticamente minuto a minuto. O difícil é que, quando está ferido, ao invés de alimentar o que é bom, deixamos crescer a picuinha.
Entramos no “modus operandi” e se antes reconhecíamos que tudo que o outro fazia era para agradar, agora vemos tudo como afronta. E, assim, vamos alimentando nosso potinho de desilusão, mágoa e ressentimento. A cada atitude da pessoa, é como se dobrássemos o bilhetinho e o colocássemos junto com tantos outros.
Diálogo? Impossível! Não havia assunto que não terminasse com um dos dois se sentindo ainda mais ofendido. Foram meses vivendo assim. Foram noites e noites daquelas que ou vamos para o outro quarto ou dormimos puxando o pé rápido para não encostar.
E o amor? Ele estava longe, longe, tão coberto com névoa que quase não dava mais para ver. Mas, saber que ele existiu e quem fomos um para o outro a maior parte do tempo foi o que nos sustentou. Todas as vezes que batia aquela vontade forte de jogar tudo para o alto, uma voz lá dentro nos dizia: “se não está agora, precisaremos ter calma, precisaremos deixar os dias passarem para podermos ter certeza”. E foi isso que nos salvou, os tijolinhos alicerçados ao longo da caminhada.
Um final de semana fomos dormir no sítio. Como seria apenas uma noite, eu decidi levar apenas uma toalha para economizar. Na hora que fiz isso, pensei “deixo ele tomar banho primeiro porque é maior, precisa mais da toalha”. Do outro lado, quando viu que tinha apenas uma, a reação do Alisson foi “você toma banho primeiro porque é menor e usa menos a toalha”.
Não era sobre a toalha. Sempre foi sobre o cuidado, sobre amar tanto alguém que se pensa no bem-estar dele antes mesmo que o seu porque nada, mas nada te deixa tão feliz do que vê-lo feliz. E assim você guarda o bilhetinho no pote que deveria. E quando a esperança estiver quase acabando o lê e o usa como semente. “Desejo que você tenha a quem amar e quando estiver bem cansado, que ainda exista amor para recomeçar!”. (Frejat).