Você acredita que é possível ter nascido para exercer uma profissão? Crer em destino é algo muito individual, mas a história de Vanaldo Nóbrega Cavalcante derruba teses até de alguns incrédulos. Em 1969, quando a mãe ainda estava grávida e era semi-interna em um centro de formação de professores, uma docente a abordou. Perguntou sobre a gravidez e se a mãe sabia o sexo do bebê. Mesmo sem recurso tecnológico para ter a resposta, afirmou. “Vai ser homem e vai ser advogado”.
Anos depois, tal professora chegou a ser docente daquele ser ainda em formação. Era apenas uma das costuras de uma vida com um destino tracejado. Vanaldo nasceu em 10 de janeiro de 1970, em Sousa-PB. Por volta dos 12 anos, após sair do colégio, sua “diversão” era ficar no prédio do Fórum local, mais precisamente no salão do Júri. Lá acompanhava as pelejas entre uma promotora pública, descrita como “ferrenha acusadora” e um advogado que, posteriormente, foi professor de Vanaldo na vida universitária: Dr. Raimundo Benevides Gadelha.
“Começava, aí, a minha admiração pelo Direito Penal e pelo Tribunal do Júri. Aliás, meu primeiro Tribunal do Júri eu fiz ainda estagiário, em companhia de um colega, por ser ato privativo de advogado e, como tal, eu não poderia fazer sozinho. Foi na minha cidade e defendi um cidadão que viera do Maranhão para matar um desafeto seu na minha cidade. Acabou ficando na tentativa de homicídio e os jurados então desclassificaram a acusação para lesão corporal”, relembra.
Graduou-se em direito em 9 de maio de 1992, no Campus VI da Universidade Federal da Paraíba (UFPB). “Comecei na área criminal e tive por algum tempo mais necessidade de nela me embrenhar. Fiquei”. Para Vanaldo, advogar na área criminal, nem sempre e nunca será fácil. “Vez ou outra ficamos sozinhos: nós e nossos clientes. Do outro lado, o Estado! Por vezes, algumas autoridades nos confundem com a figura do infrator. É lastimável, mas acontece”.
Ao recordar passagens na área, exemplifica com situações do início da carreira. “Já tive embates grandes com um delegado da cidade de São Luís-MA, no ano de 1995, ainda jovem advogado, noviço um tanto quanto rebelde. Depois, em Teresina-PI, com um magistrado extremamente corrupto e arrogante, lá pelos idos de 2001. Aqui pelo Sudeste, na cidade de Campo Belo-MG, com uma juíza que me ameaçou de prisão e naturalmente foi rechaçada na exata medida de sua beligerância”.
Se olhássemos no mapa, veríamos vários traços na caminhada deste advogado em sua profissão. Mas, quando Mogi Mirim entra neste roteiro? “Cheguei em Mogi Mirim em outubro de 1995, aos 25 anos, para visitar um colega da mesma cidade e que aqui advogava”.
Vanaldo projetava ir para Roraima, onde já morava um colega que com ele se formou. Porém, as aventuras no Norte foram substituídas pela permanência em definitivo no município que o conquistou. “Aqui, casei-me e tenho duas filhas de 22 e 14 anos. Sou hoje um cidadão mogimiriano e tenho orgulho de ter vindo de outras paragens e aqui encontrado campo fértil para o meu sacerdócio, que é a advocacia”.
Tudo está dentro do tal destino. E é óbvio que é algo que não pertence apenas a Vanaldo. Esta profissão tão antiga ainda tem espaço para nossas crianças. E até para aqueles que sequer nasceram. A todos, a dica de quem está há anos na área. “Advocacia não combina com temor, senão de Deus”.
Vanaldo frisou a importância do respeito às leis e citou os “10 Mandamentos do Advogado”, de Eduardo Juan Couture, destacando o 4º (Luta) e o 5º (Sê leal), mas reputando o 10º como o principal: “Ama a tua profissão – Trata de considerar a advocacia de tal maneira que o dia em que teu filho te pedir conselhos sobre seu destino ou futuro, consideres uma honra para ti propor-lhe que se faça advogado”.
Completou ainda com a importância de que os postulantes a este ofício conheçam o Estatuto da Advocacia e o Código de Ética. Mas, de modo especial que jamais retrocedam diante de qualquer empecilho. Seja de que natureza for. “Nenhuma autoridade deve suplantar um advogado que esteja agindo na defesa de suas prerrogativas e dos direitos de seus clientes, pois, como dizia o padre Antonio Vieira, a justiça está entre a piedade e a crueldade: o justo propende para a parte do piedoso; o justiceiro para a de cruel”.
Nesta vida dedicada ao direito, o menino de Sousa mantém em sua rotina o que lhe dava prazer, mas, agora, de forma profissional. Tem no Tribunal do Júri um ambiente em que se sente destinado a estar. E, por falar em Tribunal do Júri, Vanaldo sempre lembra de uma frase de Piero Calamandrei, jornalista, jurista, político e docente universitário italiano. “O Tribunal é o coração do advogado, martírio e delícia de sua vida”.