Falta menos de um mês para a Gabi completar 18 anos. Se os 15 anos é uma data esperada pela festa com dj e a galera, os dezoitão é idealizado quase que como uma nova vida, como se tudo fosse ser outro a partir dali. Ledo engano!
A gente vai dormir com 17 e quando acorda, no dia seguinte, está tudo igual. Para falar a verdade, inicialmente acho que até piora porque qualquer coisa é motivo para a galera soltar um “mas você já tem 18 anos”, como se em uma noite recebêssemos tudo que faltava para ser um adulto seguro e bem sucedido…
Ao meu ver, fazendo uma analogia, é tão frustrante quanto os brinquedos da década de 1980. Sou da geração cujo entretenimento vinha pela televisão, com uma programação recheada aos pequenos durante as manhãs. E era entre um comercial e outro que surgia o favorito, aquele pelo qual aguardaria ansiosamente como presente no Natal.
O contexto todo era muito legal, já o brinquedo, em si, na grande esmagadora das vezes, era muito frustrante. Na propaganda, ele praticamente tinha alma, rs. Já quando chegava em casa, não passava de um plástico duro completamente sem graça.
Segundo o filósofo Imannuel Kant, cuja obra é considerada a pedra angular da filosofia moderna, maioridade civil, redimensionada pelo Novo Código Civil em 2002 de 21 para 18 anos, é a saída do homem de sua “menoridade auto-imposta”.
Menoridade é a incapacidade de usar seu próprio entendimento sem qualquer guia ou tutor, e essa menoridade é auto-imposta se sua causa ocorre não por falta de entendimento, mas por indecisão e falta de coragem de usar seu próprio pensamento. Segundo ele, só a razão é capaz de dar liberdade e autonomia ao homem.
E isso não se conquista de um dia para o outro. Talvez o marco da maioridade possa ser o divisor de águas – para a maioria – como propulsor em busca da própria maturidade. Talvez a partir deste dia passemos a analisar mais causa x consequência.
Ainda assim, é nesta fase que obrigatoriamente temos que escolher em quem votar, quando, na verdade, tem muita coisa mais interessante acontecendo ao redor do que política. Além disso, também é preciso decidir a profissão.
Mas, oras, a pessoa não é economicamente ativa, acaba sendo um favoritismo romântico, idealizado naquilo que olhos podem ver ou ler. Tem também a habilitação e o sonho do carro, aquele que só se deseja porque não há a menor possibilidade de sustentar.
Mas assim como sobrevivemos primeiro à ansiedade e depois à decepção dos brinquedos desalmados, passaremos pelo desgosto e, dia a após dia, passaremos a montar o quebra-cabeça da vida que sim a cada dia, é nova.