sábado, novembro 23, 2024

Dia “D”

Os dias “D” são sempre muito complicados. Você estuda o ano inteiro e tem que mostrar todo o conhecimento acumulado em apenas dois dias de prova no vestibular. Passa por 30 aulas para aprender a dirigir, e, se o pé escapar, está tudo perdido. Fica cinco meses treinando para uma meia maratona e acorda passando mal.

Eu detesto dias marcados. Pode até ser que seja por defesa, mas acho péssimo depositarmos tanta expectativa por dias que, na maioria das vezes, são puros apelos comerciais. Às vezes, depois de passar sufoco para estacionar e ser atendido, a gente compra um presente que nem combina com a pessoa, só para não chegar com a mão vazia.

Recentemente tivemos um desses dias desalinhados. A Gabi resolveu fazer um café da manhã especial e saiu com o Alisson para escolher os quitutes. Eram 8h da matina. Voltaram para a casa já às 10h, para então montar a mesa e só então comermos. Demoraram porque resolveram curtir várias coisas comuns aos domingos, o que não teria problema se alguém no mundo não tivesse inventando que era Dia das Mães.

O fato é que recebemos idosos para o almoço, que fazem questão de comer ao meio dia. Fez as contas? O café terminou às 11h e uma hora depois eu deveria estar com o almoço pronto. Eu fiquei muuuuuuito angustiada e irritadíssima por eles terem demorado tanto, o que ficou ainda mais agravado pelo fato de que, naquele dia, eu não poderia ou deveria. Eu que tenho facilidade em ser arrojada, não soube lidar, cai no choro e baguncei a casa toda.

Compartilhar refeições é uma de nossas alegrias diárias, faz parte de nossa rotina. Receber quem gostamos e cozinhar para elas, também. A grande bagunça é essa bobeira de querer pertencer e fazer o que todo mundo faz. Praticamente, num dia comum, a Gabi e o Neto teriam tirado o atraso do sono da semana, eu teria tomado um café basiquinho e fim de jogo, todo mundo com fome para almoçar cedo.

Ou, como acontece quase sempre, se o café demora, partimos para um “almojanta” sem grilo.
Mas, o Alisson não quis desagradar a Gabi, que queira fazer um agrado para mim, que deveria ser especial e eu não quis desagradar a visita porque era um dia que “todos deveríamos ser felizes juntos”. Entendem que não faz o menor sentido?

Parece clichê, mas não é. Celebrar a mãe, o namorado, o pai… Tem que ser com atitudes diárias, ser presença nas aflições, por menores que elas sejam, como uma louça na pia. De nada adianta a maquiagem com a lingerie no dia 12 de junho se diariamente não se sentir feliz dividindo o arroz com feijão. Graças a Deus, os dias marcados são bem poucos, porque assim podemos guardar as máscaras e ser feliz com o que é real.

RELATED ARTICLES
- Advertisment -

Most Popular

Recent Comments