No calendário cristão, muitas são as datas que jamais esquecemos. Páscoa e Natal, as principais. Há muitas outras tradicionais no dia a dia até de quem não professa esta religião. E há uma que, admita: você, por vezes, esquece. O dia 4 de agosto é uma data a ser lembrada com entusiasmo por aqueles que pertencem à fé católica. Afinal, é o Dia do Padre.
Para esta figura tão vital à comunidade, a data, que neste ano caiu na última quarta-feira, celebra a memória litúrgica de São João Maria Vianney. O Santo Cura d’Ars, como é conhecido, é uma inspiração para todos os presbíteros da Igreja Católica exatamente por virtudes que deveriam ser as principais em todos nós: humildade, simplicidade e caridade.
O sacerdote é o amor do Coração de Jesus. E os padres são o coração de cada paróquia. Por aqui, em Mogi Mirim, temos sete comunidades que carregam este título. Em cada uma delas, um ou até mais padres que possuem a função de conduzir o seu povo para o caminho do bem, da fraternidade e, sobretudo, do amor. Eles estão em júbilo e todos mereciam destaque aqui nesta singela homenagem de O POPULAR.
Mas a nossa reportagem resolveu conversar com aquele que é uma sumidade quando o assunto é a vocação sacerdotal em Mogi Mirim. Sim, ele. Monsenhor Clodoaldo Nazareno de Paiva. Ou, para a maioria, simplesmente: Padre Paiva. Não é simples falar sobre ele. Nascido em 6 de abril de 1928, completou, neste ano, 93 anos. De muita história e estórias. Mas, principalmente, de vida sacerdotal.
Como ele mesmo diz, “não é fácil ser padre”. Estudou 14 anos, em um seminário em Campinas para, aos 25, ser ordenado em um sacramento pra lá de especial. “A ordem é um dos sete sacramentos e é muito especial, pois poucos o recebem”, pontuou. Para ele, o padre é figura vital na comunidade, comandando missas, novenas, batizados. E, sobretudo, direcionando a comunidade para um caminho de oração. De caridade. Um trajeto que São João Maria Vianney traçou, lá em Ars, na França. E que não atinge um número grande de pessoas, principalmente, no Brasil. “O número de padres aqui é pequeno. Até porque, eu ressalto, não é fácil. Quando eu fiz o seminário, por exemplo, entramos em 60 e só quatro se formaram padre”, classificou.
Padre Paiva faz questão de dizer que esta não é uma profissão. É vocação. “Eu poderia ser advogado. Aliás, exerci esta função por um tempo. Advogado, militar, professor são profissões. Padre é vocação. É atender um chamado de Deus”. Sábias as palavras deste homem que dedica a vida ao sacerdócio desde 6 de dezembro de 1953.
E que teve, e certo modo, inspiração fraternas. Afinal, o irmão mais velho, Francisco de Paiva, também foi padre. “Ele é o número um de uma família de oito irmãos. E eu o oito. E nós dois fomos padres. Ele, infelizmente, por apenas três anos, já que faleceu muito jovem”. Quis o destino que apenas o caçula tivesse vida longa. Sorte a nossa.
Nascido em Socorro, chegou por aqui um mês após a ordenação de 1953. Veio para auxiliar o monsenhor José Nardin, que na época substituía Moysés Nora, que havia falecido. Em 1959 voltou para Mogi Mirim, após convite de Nardin, para fundar mais uma paróquia, a Santa Cruz, na qual faziam parte, em sua maioria, fiéis moradores de sítios na região.
E o quanto as cidades brasileiras devem a sua história a padres. Mogi Mirim mesmo nasceu a partir de uma paróquia, a de São José, que celebra 270 anos em 2021. E quantos os padres que passaram por esta e outras comunidades, professando a fé cristã. Alguns, como o próprio Padre Paiva, ganharam títulos. Ele é cônego e até monsenhor, honraria recebida após ato do Papa João Paulo II. Mas, quem disse que isto está acima do sacerdócio? “O título mais importante é ser padre. Os títulos eu posso perder, podem mudar. Mas sempre serei padre. É uma ordenação sacerdotal”.
Padre Paiva é um retrato especial desta vocação. E ele está aqui, entre nós, para desfrutarmos de tanta sabedoria. Outros nomes, como Padre Roque e Padre João Vieira Ramalho, que nos deixaram ao menos há mais de um século, emprestam seus nomes a vias importantes de Mogi Mirim. Padre Paiva, como monsenhor, recebeu em vida a homenagem de dar nome a uma rodovia. E é curioso observar que estes homens, que nos servem ou serviram como caminho para uma vida mais humilde e de fraternidade, estejam com seus nomes eternamente ligados a caminhos. Nestas vias da vida, a conexão de nós, como paroquianos, com aqueles que nos coordenam, está, de toda forma, eternamente interligada.