Desde 1º de janeiro de 2023, a Câmara Municipal de Mogi Mirim tem um novo presidente. Dirceu da Silva Paulino (Solidariedade) foi eleito para a função, por seus pares, em sessão especial realizada no dia 5 de dezembro do ano passado. Na ocasião, concorreu contra outros sete colegas. Cada um deles votou em si, o que também fez Dirceu, que teve o respaldo dos outros nove representantes. Assim, com 10 votos, se tornou o presidente do Legislativo local para o biênio 2023/2024.
E, como é impossível passar despercebido pelo absurdo de tardar tanto para ocorrer, é também o primeiro negro de pele retinta a chefiar a Casa de Leis. Por mais que os historiadores possam divergir quanto ao início das atividades legislativas na cidade e que a própria Câmara trate a atual legislatura como apenas a 18ª, desde 1770 Mogi Mirim possui uma Câmara Municipal.
A representatividade negra no comando de um dos poderes municipais foi, porém, apenas um dos temas abordados em entrevista exclusiva concedida por Dirceu ao jornal O POPULAR. Eleito em 2020 com 377 votos, o ex-jogador profissional de voleibol vive ainda a legislatura de estreia. Secretário de Esporte na gestão do ex-prefeito Luís Gustavo Antunes Stupp, então no PDT, ele reconhece que a experiência política é curta, mas promete levar uma virtude esportiva para a liderança da Casa de Leis: o trabalho em grupo.
O POPULAR – Você foi eleito para comandar a Câmara pelos próximos anos. O que os mogimirianos podem esperar da sua atuação à frente do Legislativo?
DIRCEU PAULINO: Muito trabalho e dedicação. A presidência da Câmara é um cargo muito importante no que diz respeito, principalmente, à administração da casa legislativa. É uma responsabilidade grande, pois são muitos fatores que acabam influenciando diretamente nos vereadores e no que eles produzem para a população. Juntamente com a nova mesa e toda a legislatura, espero que os próximos dois anos sejam muito produtivos para a nossa cidade.
O POPULAR – Quais são suas principais metas como presidente da Câmara?
DIRCEU PAULINO: A principal meta é fazer uma presidência compartilhada. Minha função como presidente é auxiliar ao máximo os vereadores em suas demandas e projetos. Também tenho meta de melhorar a estrutura da Câmara o quanto for possível. Na minha opinião, uma Câmara estruturada é uma Câmara mais produtiva, e é isso que a população espera, um legislativo eficiente. Como vereador, continuarei buscando recursos no estado e na federação e continuarei legislando sobre pautas importantes para o município, assim como já venho fazendo nesses dois anos de mandato.
O POPULAR – Para você, exercer o papel de presidente da Câmara tem qual apelo? Como fazer desta função algo que traga benefícios reais para seus eleitores e não apenas uma função protocolar?
DIRCEU PAULINO: Ser presidente da Câmara é ser dedicado 24 horas ao município. A função requer dedicação total, muitas vezes deixando até de lado os projetos pessoais como vereador, para trabalhar exclusivamente pela Câmara como um todo. Creio que estar presidente é entender que essa função deve ser de entrega. Se como presidente eu conseguir criar um ambiente saudável, funcional e efetivo, isso já será benéfico não somente aos meus eleitores, mas sim a toda população de Mogi Mirim.
O POPULAR – Você assume o cargo logo após a Sônia Módena. Assim, a Câmara mogimiriana começou a atual gestão comandada por uma mulher e terminará comandada pelo primeiro negro em quase 300 anos de história. Para você, qual é a importância desta sucessão? O que ela representa para você?
DIRCEU PAULINO: Na minha opinião, é de suma importância. Mostra que preconceitos e posicionamentos contra as chamadas “minorias” foram vencidos. Me senti extremamente honrado pela confiança dos meus pares. Primeiro, porque sou vereador de primeiro mandato. Segundo, por não ter uma história política na cidade. Fui secretário, mas não era filiado a nenhum partido. Portanto, nunca havia participado de nada diretamente político. Terceiro, por estar sucedendo a presidente Sônia, uma mulher, que além de dedicada, é super competente no que faz. E, em quarto lugar, por como você citou. Demorou mais de 250 anos para que um negro fosse visto pelos seus pares com condições de assumir essa função, não levando em consideração a cor da pele ou se é de uma família tradicional da cidade, e sim pela postura e pelo diálogo que, acredito eu, foi um dos fatores analisados pelos outros vereadores na hora de votar. Se estou presidente devo aos vereadores.
O POPULAR – Você pretende ter uma atuação mais ostensiva no combate ao racismo e a inclusão das minorias na política local? Como atuar de forma mais efetiva nesta questão estando no comando da Câmara?
DIRCEU PAULINO: Sem dúvida. Sempre que acho importante busco a discussão sobre esses temas. Aqui mesmo na Câmara existem alguns debates neste sentido. Temos o vereador Alexandre Cintra, que também é negro e cinco vereadoras mulheres. Não tem como não dar atenção a essas pautas. A minha vontade é que cada vez mais possamos lutar por direitos iguais, mesmo que seja de representatividade. Espero que a presidência abra novas portas para que eu consiga elevar o nível da discussão sobre esses assuntos para um patamar que atinja a população como um todo e não somente entre as paredes do legislativo.
O POPULAR – Você assume a Câmara em um importante momento de transição na política estadual e federal, com as mudanças de governo. Como aproveitar esta situação para beneficiar a cidade, trazendo recursos, investimentos e despertando o olhar dos novos governantes para a região?
DIRCEU PAULINO: Sem dúvida é um momento ímpar na política estadual e federal. Temos ideologias diferentes nas esferas e isso requer um cuidado maior nos posicionamentos. Eu estou extremamente tranquilo, pois sempre fui ponderado. Sempre vi coisas boas na esquerda, assim como na direita. E ter morado em vários países, onde convivi com governos diferentes, me fez entender que todo extremismo é ruim. Não irei medir esforços para trazer verbas para Mogi Mirim, seja do Governo Federal, quanto do Estadual. Conheço pessoas que irão me ajudar tanto em Brasília, quanto em São Paulo e não podemos deixar de lembrar que a atual ministra dos Esportes é uma ex-companheira de voleibol.
O POPULAR – O que você espera deixar de legado após este seu ciclo de dois anos à frente da Câmara Municipal de Mogi Mirim?
DIRCEU PAULINO: Espero que todos se lembrem que fui um presidente focado no trabalho em grupo. Que vejo a Câmara como uma grande equipe que, com suas vitórias, traz melhorias à qualidade de vida de toda a população de Mogi Mirim. Diferente das quadras, em que a vitória traz satisfações pessoais e individuais, as conquistas no Legislativo trazem, de forma muito maior, transformações concretas nas vidas das pessoas. Espero ser lembrado como alguém que passou pela política e deixou um legado de honestidade, trabalho, devoção à cidade e bons resultados na vida das pessoas.