Nos últimos dias surgiram algumas notícias em Mogi Mirim relacionadas ao setor de trânsito. Uma delas diz respeito à Zona Azul, cujo contrato entre Prefeitura e a concessionária responsável pelo serviço foi encerrado no começo deste mês. Agora, uma nova licitação será realizada e podemos ter mudanças em algo que, aos poucos, a população havia se acostumado. Afinal, sabemos que cada empresa opera de um jeito em relação aos créditos e será importante ficarmos atentos às novidades.
De toda forma, o estacionamento rotativo é uma realidade. Até porque, com a característica de cidade antiga que o Centro de Mogi Mirim tem, fica impossível imaginar condições de estacionar o carro na área central sem este sistema. São ruas apertadas, poucas vagas e ideias como a de um bolsão de estacionamento próximo às ruas principais parece utopia. Assim, que venha uma nova Zona Azul em condições de tornar a prática de estacionar no Centro uma experiência menos stressante e cada vez mais justa.
E, por falar em justiça, outro tema relevante diz respeito ao transporte público. Aliás, o ideal é chamarmos de transporte coletivo. É que, quando tratamos de algo público, a primeira coisa que vem à mente é gratuidade. Ninguém paga para usar um banheiro público. Não são cobradas taxas para usar uma quadra poliesportiva pública.
Porém, pelo “busão” do dia a dia, nós pagamos. A tarifa em Mogi Mirim, em 2007, era de R$ 1,85. Hoje custa R$ 4,80. Ou seja, a “ida e volta” para o usuário sai a quase R$ 10. Se você colocar isso no mês dá quase R$ 300. Se considerarmos que o salário mínimo é de R$ 1.320,00. Ou seja, quase 1/5 do salário mínimo é utilizado com o transporte coletivo.
Como a maior parte de quem utiliza o ônibus urbano é formada por trabalhadores de baixa ou média renda, não é absurdo dizer que quem ainda precisa pagar por aluguel ou financiamento de imóvel, pela cesta básica, pelas contas de luz e água, entre outras despesas de sobrevivência, dispensa boa parte de seus rendimentos para se locomover ao trabalho. Esta é uma razão pela qual se torna importante a defesa pela tarifa gratuita, tornando o transporte coletivo urbano, de fato, público.
E a ideia de transporte público gratuito não é de forma alguma nova. Na França, Colombiers, subúrbio de Toulouse, em 1971 realizou a primeira experiência na Europa de acabar com as tarifas.
Pesquisadores descobriram que após a mudança, que foi financiada por um pequeno aumento no imposto sobre empresas, o número de passageiros aumentou em 60% durante a semana e dobrou nos fins de semana.
Os defensores da ideia argumentam que tornar o transporte público gratuito ajuda a reduzir as emissões de carbono e a poluição do ar, além de aliviar as pressões sobre as famílias desfavorecidas. Já os críticos protestam contra a ideia de abolir as tarifas, apontando os grandes desafios de custo e infraestrutura envolvidos. Aqui perto não há exemplos de gratuidade, mas Itapira (SP), por exemplo, em 2022, reduziu a tarifa de R$ 4,50 para R$ 2,50, oferecendo, ainda, a tarifa grátis aos feriados.
É claro que, para um passo desses ou até mesmo para a gratuidade total, é preciso que ocorram estudos, vontade política e até engajamento da população. Porém, não custa nada imaginar a intervenção pública a favor de famílias menos abastadas, tornando menos desigual a oportunidade de “ir e vir” ao trabalho, ao estudo, ao lazer… Que deste, podemos dizer, devaneio, surja a semente para que, em alguns anos, se projete a aplicação de uma política pública no sentido de tornar de fato público o transporte coletivo em Mogi Mirim.