A atual dívida da Santa Casa de Misericórdia de Mogi Mirim já chega a quase R$ 54 milhões. Com 150 anos de história, o hospital, único na cidade que atende pacientes pelo Sistema Único de Saúde (SUS), vive uma das mais severas crises financeiras. A situação, como já definiu o próprio provedor do hospital, Milton Bonatti, durante uma entrevista com O POPULAR, ainda em fevereiro, é “insustentável”.
O déficit mensal da entidade é de R$ 642 mil. Os números foram apresentados durante reunião, realizada no auditório da Santa Casa, na noite de quarta-feira, dia 4, pelo administrador do hospital, Clodoaldo dos Santos. Vereadores, a vice-prefeita Lúcia Tenório (PPS), a secretária de Saúde, Rosemary Fátima Silva, a Rose, e demais convidados acompanharam os dados.
Mesmo diante das dificuldades, tanto Bonatti quanto Santos descartam fechar as portas do hospital. “Em momento algum pensamos em fechar a Santa Casa. Todos os serviços estão ativos”, reforçou Santos. Segundo o administrador hospitalar, é preciso, primeiro, reequilibrar despesas e receitas. Paralelamente, devem ser intensificadas as ações de caráter beneficente, como campanhas junto à população.
O provedor não acredita em intervenção, uma vez que a população está sendo atendida normalmente. “Prefeitura jamais vai intervir”, declarou. Bonatti pediu ajuda dos munícipes, para que abracem a causa do hospital, e ainda se mostrou confiante, ao citar que vê “uma luz no fim do túnel”. “Eu confio muito nessa equipe. A situação está realmente difícil, mas se eles acreditam…”, destacou.
De acordo com Santos, os problemas da Santa Casa começaram a se agravar em 2010. A partir disso, fatos como a intervenção do prefeito Carlos Nelson Bueno (PSDB) e o rompimento do convênio com a Unimed marcaram o período, aumentando a quantidade de empréstimos e, consequentemente, da dívida. O administrador explicou que, hoje, a maior dificuldade do hospital foi o empréstimo feito no ano passado, via Caixa Econômica Federal (CEF). Dos R$ 13 milhões, R$ 6 mi ficaram retidos na CEF para quitar dívidas da instituição com o banco. Os R$ 7 milhões restantes, por exemplo, não foram gastos para acertar o 13º salário dos funcionários, que até hoje não receberam.
Sem contar o empréstimo com a CEF, a Santa Casa ainda deve R$ 2 milhões ao Itaú, outros R$ 6,4 milhões para a Caixa (demais empréstimos), R$ 5 milhões em impostos, R$ 1,2 milhão aos médicos, R$ 1,4 milhão em passivo trabalhista, R$ 1,5 milhão aos fornecedores e até R$ 500 mil em serviços de telefonia, totalizando R$ 37 milhões. Mensalmente, a entidade gasta R$ 3,1 milhões para manter toda a estrutura do hospital, incluindo as parcelas dos empréstimos, a folha de pagamento, os impostos e encargos, materiais, medicamentos, médicos e demais despesas. Contudo, arrecada em receitas quase R$ 2,5 milhões, ou seja, ainda abaixo dos custos.
O provedor garantiu que, embora altas, as despesas de 2017 já foram menores que as de 2016. A folha de pagamento, conforme mostrou Santos, também foi reduzida em 40%, de R$ 1,4 milhão para R$ 852 mil, com a demissão de 131 dos 566 colaboradores da Santa Casa. Outra medida sugerida, durante a reunião, foi a devolução do duodécimo da Câmara Municipal para a Santa Casa. Os duodécimos são parcelas que a Prefeitura repassa ao Legislativo, para suas despesas.
O saldo não utilizado é obrigatoriamente devolvido aos cofres públicos, todos os anos, geralmente em dezembro. No entanto, em 2016 e 2017, o dinheiro que sobrou do Legislativo acabou utilizado para socorrer a própria Prefeitura, sendo destinado à folha de pagamento do funcionalismo municipal. Há um ano, Bonatti assumiu o cargo de provedor, logo após a renúncia de Dílson Guarnieri, que já havia substituído Josué Lolli. Este, por sua vez, deixou a provedoria depois de uma crise que culminou em greve, em janeiro de 2017.
Ofício
Durante entrevista à imprensa, o provedor disse que já enviou à Prefeitura um ofício solicitando ao Executivo a revisão do corte de 20% nos convênios com a Santa Casa, medida decretada pelo prefeito, no início do ano passado. Em nota, a Prefeitura informou que, até o momento, não recebeu oficialmente nenhum pedido da provedoria da Santa Casa para rever qualquer tipo de convênio e garantiu que todos os valores a serem pagos à Santa Casa estão rigorosamente em dia.
“A decisão de reduzir os contratos de prestadores de serviços e aluguéis de prédios públicos tomada no início de 2017 foi fundamental para o equilíbrio das contas da Prefeitura e cumprimento dos compromissos assumidos e que todas as reduções foram realizadas sem que os serviços oferecidos à população fossem prejudicados”, justificou a Administração Municipal.
Ainda na nota, a Prefeitura afirmou que não há nenhuma intenção de intervir no hospital. “Essa ideia não foi sequer cogitada pela Administração Municipal”. O objetivo, como pontuou o Executivo, é acompanhar os serviços prestados pela Santa Casa à população, bem como se todos os convênios estão sendo cumpridos.