sábado, novembro 23, 2024
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Do esqui aos quadrinhos: a saga de Mika, uma heroína mogimiriana

Na semana em que Maurício de Souza completou 85 anos, quem ganha o presente é Mogi Mirim, também de aniversário recente. Por mais que Mirlene Picin ainda esteja juntando as fichas que caíram, repetindo a felicidade com o que chama de “presente da vida”, quem ganha é a cidade que criou esta lenda. Sim, os números estão aí.

Em setembro do ano passado Mika chegou a 32 medalhas em sulamericanos, se tornando a brasileira com mais conquistas neste nível de competição em toda a história entre todas as modalidades esportivas. Ela ultrapassou Piedade Coutinho Tavares da Silva, nadadora que fez sucesso entre os anos 1930 e 1950.

Quebrou marcas, manteve um projeto de reflorestamento relacionado aos resultados e, neste ano, em meio à pandemia, encampou uma ação social que levou comida, higiene e diversão a crianças carentes. Esta soma faz Mika parecer uma heroína, destas que vemos apenas nas histórias em quadrinhos, não é?! Pois é. O presente destacado no início desta história é este.

Mirlene Picin anunciou durante a semana que vai se tornar personagem da Maurício de Sousa Produções. Do ícone nacional de histórias em quadrinhos, veio o convite para Mika entrar em um seleto grupo. De Pelé a Neymar, raros os casos de esportistas inseridos no universo da Turma da Mônica.

Tudo começou através da relação entre as famílias de Mirlene e Maurício. Rafael Picin, sobrinho de Mika, trabalha há 12 anos com Maurício de Sousa, atuando na parte de produção executiva e artística. As famílias criaram vínculo, Mirlene conheceu o cartunista e escritor, além da sua esposa, Alice Takeda.

“Nos últimos dois anos, a esposa dele, a Alice, veio acompanhando a minha carreira mais de perto. E sempre que encontrava em eventos familiares, ela se mostrou cada vez mais interessada em saber como funcionava, acompanhar meu treinamento, as redes sociais, minha história”, contou Mirlene a O POPULAR. Alice é uma das mentes criativas na empresa e achou que esta história, de uma menina do interior de São Paulo, que compete em alto nível em esportes de neve, merecia um destaque.

“Essa minha história é meio inusitada, de como eu fui parar no esporte. Se parar para pensar não tem muita conexão. Não venho de uma família de atletas, não tenho referência nenhuma no esporte de competição na família e aí fui acabar competindo em um esporte de neve, em um país tropical. Aí vem o projeto de reflorestamento… Corro na montanha no verão, esquio no inverno e troco medalhas por árvores”.

Todo este roteiro foi compreendido como uma ferramenta bacana a ser utilizada nas histórias. Afinal, desde sempre, a alma da Maurício de Sousa Produções é inspirar pessoas. “É mostrar referências e exemplos bacanas e salientar esta questão do esforço e tudo mais. Foi uma avaliação deles em relação ao que eu poderia representar dentro do universo de personagens que eles já têm de muitos e muitos anos”, analisou a mogimiriana.

Mika estará nas publicações nos próximos meses

Mirlene sabe do projeto desde janeiro deste ano. Levou um susto e, a cada etapa, passou a processar a notícia. A primeira reunião foi toda presencial, mas, desde março, tudo acontece de forma remota. O motivo, claro, a pandemia de Covid-19. E, enclausurada, se lançou ainda mais firme na pesquisa sobre a própria vida.

“Tive que revirar meus baús, coisa que não fazia há muito tempo”. Buscou fotos, arquivos pessoais, materiais publicados pela imprensa. Uma viagem no tempo que trouxe mais um efeito ao momento surreal que diz viver. “Mexi bastante com várias questões da parte emocional mesmo e foi meio que relembrar do esforço, de toda a trajetória e a criação da personagem deixou isso à flor da pele”, confessou a atleta.

A personagem ainda não foi publicada. Será lançada apenas nos próximos meses e ela fará parte do núcleo da Turma da Mônica Jovem. “Tinha bastante gente envolvida. Sei que a personagem vai fazer parte de um quadrinho, revista normal, comercial. Ainda não tenho detalhes de como vai ser feita a distribuição, mas, em teoria, a normal, de todas as edições”, explicou Mika.

O núcleo jovem foi lançado em agosto de 2008, em traços e linguagem que remetem aos mangás japoneses e histórias que buscam dialogar com o público pré-adolescente. Mas que prendem alguns jovens “mais velhos”, sobretudo adultos e, é claro, também atinge o público infantil.

“Se você analisar a personagem, vou mais para linha de super-herói do que de desenho de gibi. É um apelo bem jovem, bem moderno, com ilustrações muito bacanas”, completou ela que, há anos, já é a nossa heroína, com medalhas e projetos. Ambientais e sociais. Ela que tem entre os ídolos exatamente a figura que agora lhe abre uma porta que jamais esperou.

Visibilidade ao endurance e lições à terra querida

“Eu sou muito fã e passei minha infância lendo revista do Maurício de Sousa, coisa antiga. Esta publicação é um presente da vida, uma coisa que não imaginava que poderia acontecer”. E como a própria Mika diz, ao ver acontecer, seguiu se questionando se era com ela mesmo. É. É sim, Mika. E por que não seria?

“Porque eles já trabalham com muitos atletas. Todos os conhecidos são jogadores, como Pelé, Ronaldinho Gaúcho, Fenômeno, Neymar. O Maurício chegou a desenhar, na década de 1990, o time inteiro do Barcelona. Alguns outros personagens especiais, alguma outra personalidade, eles sempre fazem algum tipo de homenagem. Acontece que, para eu entrar neste mundo, é um negócio até meio fora da realidade, porque eu sou uma atleta, mas não sou atleta do nível destes atletas que foram representados por ele”.

Mais do que isso. Mika ainda se surpreende por ver partir da Maurício de Sousa Produções o interesse em expor a história de uma brasileira que esquia. “Sou de um esporte que é desconhecido em um país que só se fala de futebol. Este é o ponto mais importante de tudo, não só para mim, mas acho que para todo mundo relacionado com este tipo de esporte”.

É a primeira vez que um atleta de endurence ou de resistência, competições em que se acumula muita quilometragem ou muitas horas, como ciclismo, natação, corrida, esportes ao ar livre, vai se tornar um personagem. “Então, eu espero que isso dê visibilidade para todo o pessoal envolvido nisso. Não só pra mim, mas pra todo mundo”.

E vai além deste seu mundo esportivo. Tem relação direta com sua cidade. Seu planeta Mogi Mirim, de quem sempre teve orgulho de representar, mesmo com certas limitações. “Acho que isso vem mostrar até para a própria cidade, que, às vezes, não a valoriza. Sempre volto a dizer que, na visão de quem pratica, de quem é profissional da área, em Mogi Mirim não tem esporte. O olhar é de que a cidade só movimenta o futebol amador”, destacou Mirlene.

Para ela, a criação da personagem pode ser uma oportunidade para que aqueles que têm poder de decisão na cidade pensem e executem o esporte cada vez mais de forma macro, fora da caixa. “Muita coisa é possível fazer. Eu, apesar de ter viajado bastante para competir, fiz grande parte dos treinamentos em Mogi Mirim mesmo. Eu nasci aqui, fui criada aqui e grande parte da atleta foi construída aqui, na cidade”.

É. Se pararmos para pensar, a maioria dos heróis das histórias em quadrinhos é forjada nos momentos turbulentos e sua luta serve de inspiração. Mika venceu pela paciência e persistência. Se torna, assim, um espelho cada vez mais real. Não só sua personagem não é ficção, como os feitos são palpáveis.

Em breve, a trajetória desta mogimiriana vai parar em uma das turmas mais conhecidas do país. E este é um presente para todos. Uma heroína nascida aqui e que vence nas montanhas e na neve. Na vida. Mirlene Picin é patrocinada por Cortag, Lem e TM Motos Brasil, Visafertil e First Imobiliária e tem apoio do Hospital 22 de Outubro, Mediphacos, Fisio Zavarize, Ibeas Academia e Explosão Suplementos.

CRÉDITO DAS FOTOS: Arquivo Pessoal/Turma da Monica/Reprodução

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