Se tem uma coisa lá em casa que dá briga entre os quatro é comida. Sim, é aquele esquema meio “cada um por si”. Ninguém gasta muito tempo pensando se outro já comeu. É claro que isso só vale para delícias, afinal, ninguém nunca lutou por pódio no arroz e feijão. Então, se você tem intenção de comer um pedaço do bolo de chocolate mais tarde ou tomar mais uma taça de sorvete no dia seguinte, precisa avisar a galera, quando não, colocar num potinho e esconder no fundo da geladeira.
E, como a luta é acirrada, fomos criando mecanismos de autodefesa. Quando compramos chocolates, ou cada um escolhe uma barra, ou contamos os quadradinhos e dividimos igualmente em quatro. Para a caixa de bombom a estratégia é bem mais complexa. Tiramos dois ou um e, quem vai ganhando, vai tendo direito de escolha. Para tornar mais justo, dividimos em rodadas. Por ordem de sorte, escolhe um chocolate e passa a caixa para o próximo, até que não sobre nenhum.
Eu estou tão acostumada que já achava que isso era normal. Até que um dia contei para uma amiga nutricionista e ela arregalou os olhos. No fundo tenho certeza que esperava uma bomboniere cheia e que de fato só comêssemos num momento de grande vontade. Mas não rola! Você deve estar pensando “ah, mas isso acontece justamente porque não se tem sempre!” Infelizmente não… e não mesmo!
Não somos equilibrados com guloseimas em geral. Eu ataco tudo quando chego em casa, por volta das 18h. O Alisson é o terror do amanhecer: sempre volta para a cama com a boca cheirando doce. A Gabi é a mais tranquila, desde que não goste muito. Se gostar, já era. Já o Neto coloca um fone e come com aquele descompromisso de quem está de férias.
Por conta disso, só compramos pontualmente. Isso também começou pela necessidade de rotina quando eram pequenos, tendo em vista que sempre tivemos os horários cronometrados. O período da manhã passava bem depressa e, se alguém comece uma bolachinha que fosse, já bagunçava o horário de almoço que ia refletindo no restante do dia. Então, para evitarmos desgaste desnecessário, era melhor não ter.
De lá para cá só fomos ajustando, o que não significa que as vezes isso não seja bem chato. Eu, por exemplo, sempre fui comilona e adoro bolachas. Às vezes eu abro a gaveta para olhar, mesmo sabendo que não vai ter nada, só procurando “aquela coisinha”.
Lembro com humor que quando dependia dos meus pais e eles me falavam não, uma voz ecoava no meu íntimo: “a hora que tiver meu dinheiro, vou comprar tudo que quiser de comer no supermercado, não estou nem aí!”. O curioso é que já ouvi a mesma coisa dos meus filhos, na objetificação por liberdade.
Mas não foi assim comigo e não será com eles. Isso porque, comer também está no grupo de escolhas diárias que devemos fazer e assim como tantas outras coisas, é acompanhado de consequências. Faz parte do grupo seleto de decisões que nos impactam e dos excessos que, se não formos vigilantes, oferecem prazeres momentâneos e em seguida nos aprisionam.