Espero que tenham percebido que andei sumida por aqui (rsrsrs). Como já revelei em outros momentos, minha mãe está passando por um tratamento oncológico. Depois de alguns ciclos de quimioterapia, chegamos à cirurgia, motivo desta pausa na coluna.
Se o câncer tem um lado ruim e todo mundo fala dele, eu, ao contrário, sou testemunha de quantas coisas boas também pode trazer. Certamente as experimentações dariam um livro sobre fé, esperança, amor, resiliência, paz, entre tantos outros sentimentos que nos visitaram e preencheram mais constantemente nos últimos meses.
Claro que falo sobre viver uma situação que dá tanto medo e que, sim, tem desconfortos, especialmente ao paciente. Mas vivermos isso de forma tão amorosa só foi possível por dois motivos: estar cercada por quem se importa e pelo poder das palavras certas.
Assim que recebemos as primeiras imagens pedi ajuda à Marília (ou, para vocês. A doutora Marília rs), aquelas amigas da adolescência que você vê a cada dois anos, fala uma vez a cada seis meses, mas carrega no coração todos os dias. Foi ela quem pediu para que uma colega especialista nos atendesse. Esta, a doutora Raquel, ao abrir a porta do consultório, nos recebeu como se também nos conhecesse há anos. Abraçou, sorriu, acolheu nossos olhos esbugalhados e inseguros.
Mais exames, diagnóstico fechado e chegamos ao oncologista. Gente, pensa em uma palavrinha que se pronuncia baixinho. Mas isso foi até conhecermos o doutor Pedro. Depois de perguntar à minha mãe se ela sabia o que tinha, como quem conversa enquanto fatia o pão para aperitivo, comparou o câncer hoje a doenças crônicas pelas quais temos mais simpatia, como pressão alta, diabetes, colesterol.
Também permitiu que seguisse com sua rotina, fez algumas sugestões, mas a principal era que ouvisse apenas a ele e seus limites próprios. Só. Não deu prazo, não brincou de Deus.
Chegamos de ombros curvados pela doença, saímos como se, assim como o folclore que envolve os gatos, tivéssemos sete vidas. Aqui preciso fazer um adendo. A maior parte das vezes estávamos em três: eu, minha mãe e o Plínio e tudo foi feito em Campinas, dado o plano de saúde.
No caminho de ida reinava o silêncio. Se pudesse descrever, diria que íamos nos contorcendo, aquele entortar de quem tem muito medo do que está indo encontrar. Já na volta, não teve uma só vez que a forma como fomos tratados não tivesse nos renovado, nos devolvido a força e a alegria.
Para somar, uma marca registrada da minha mãe são suas combinações exóticas. Ela tem um jeito próprio: gosta de vestido, maquiagens, acessórios coloridos e tudo isso junto rsrs. Todo mundo que vi se aproximar dela frisava o quanto sua personalidade era importante e deveria ser mantida, como um otimismo, um “fica firme”. Acreditem, não teve um dia sequer que ela tenha deixado qualquer dessas coisas de lado. Não teve uma ‘quimio’ sem sombra, um exame sem brinco, uma consulta sem saia com bota, um dia sem Adriana.