sábado, novembro 23, 2024
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Dormi na praça

Eu sempre gostei de dormir na casa dos outros e meus filhos puxaram isso de mim. Eu acho o máximo ver como as pessoas vivem nas casas, o que elas comem, como se organizam, as coisas bem básicas do dia a dia mesmo. É pão ou bolacha no café da manhã? Manteiga ou requeijão? É na xícara ou no copo? É como um teste se as pessoas realmente são, na intimidade, o que demonstram na rua. Conhecer suas almas desnudas.

Fora isso tem a questão da diversão. E é tão legal. A gente conversa sem pressa e o assunto reeeeennnnde. Também tem o vírus do “riso fácil” que só contamina lá pelas altas horas da madrugada e gera crise de gargalhada por motivos bobos. Além da narrativa de velhas histórias, a gente consegue abastecer o baú com novas.

E olha que maluco. Por preguiça, todas as vezes que a Gabi e o Neto pedem se alguém pode ir dormir em casa, minha primeira vontade é responder “não”. Já fico pensando que vou ter que fazer comida para uma galera, que vai rolar a maior bagunça e no outro dia vou ficar com a sujeira de brinde.

Além, é claro, de correr o risco de ser acordada várias vezes no decorrer da noite pelo barulho das praguinhas. Então, antes que minha boca seja mais rápida que meu coração, respiro fundo e solto um “claro” – “mas depois vocês arrumam tudo”.

Também diminuí demais meu nível de exigências sobre onde vão dormir. Se antes precisava do nome completo dos pais, tocar a campainha e acenar com um “Oi, eu sou a Bárbara. Tudo bem mesmo ele dormir aqui?” Hoje, ‘malemá’ sei o nome do amigo, que se não for do grupinho da infância, dificilmente vou guardar.

Pode até soar irresponsável, mas a verdade é que hoje, às vezes, eles dormem na casa de pessoas que até hoje troquei pouquíssimas palavras. E é aí que entra a relação de confiança estabelecida na educação: eu sei o que posso esperar deles. Até porque, queridos amigos, daqui para frente e cada vez mais, é cada um por si. Por isso é tão importante que a base seja boa, porque os olhos estarão cada vez mais distantes.

E com toda essa trajetória eu tenho muita história para contar. Já acordei de madrugada com o sapequinha cochichando no celular com o pai que não conseguia dormir. Outra vez encontrei a mãe de um deles no supermercado e sorrindo ela mandou um: “Nossa, ficaram tão animados que nem tomaram banho”. Eis que fico na dúvida sobre o que é pior: admitir que não se lavaram ou que eu nem sabia.

Mas, disparado, a pior de todas aconteceu com a Gabi. Vejam bem, na nossa casa, se pudermos “tocar” a barata ao invés de matar, o fazemos. Pode imaginar o que é para uma criança que vive num lugar assim ver a faceira galinha virar uma galinhada servida no almoço? Foi o que aconteceu. Faz parte do risco…

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