O Brasil é um país cada vez mais complexo. O país do carnaval, futebol e alegria é um estereótipo para quem vê de fora e não para quem vive a realidade. Há alguns temos nos permitido preferir o ódio ao amor e este é um panorama muito ligado a um universo que vende o país como abençoado por Deus e bonito por natureza, mas que destrói a fauna e a flora e sequestra a fé e os discursos cristãos para colocar em prática o contrário do que, segundo os registros bíblicos, Jesus Cristo pregou.
Afinal, o Messias nunca falou em armas e tampouco se achava especialista em morte. Pelo contrário. Pregou amor ao próximo, falou até em dar a outra face ao ser agredido e em perdoar aqueles que nos tem ofendido. Mas nada que assuste o histórico de uma nação formada pela violência daqueles que invadiram a terra contra os habitantes primitivos – que, aliás, seguem sendo exterminados através de políticas públicas voltadas a excluir, de vez, os indígenas do mapa.
Uma nação formada através do estupro de mulheres e da escravização dos que aqui habitavam e de outras etnias para cá trazidas. É neste caldo histórico que o Brasil chegou em 2022 como se estivesse em 1904, com uma guerra de narrativas contra a hoje óbvia importância da vacinação. Um discurso que é usado para desviar o foco de crimes ligados direta ou indiretamente aos principais disseminadores de notícias falsas relacionadas ao tema.
E agora isto está ainda mais intenso. Entramos nas últimas semanas na fase de vacinação para crianças entre 5 e 11 anos aqui em Mogi Mirim e em outras tantas cidades. Não é a maioria, mas há ainda uma parcela de marmanjo contra a vacina, caindo no discurso raso e de cortina de fumaça proliferado no “zap zap”.
Se vacinar e levar o filho para se vacinar não é virar cobaia de algo experimental. A ciência, a mesma que desenvolve cada vez mais rapidamente os sistemas de segurança para os carros chiques e os smartphones de última geração da parcela que mais dissemina mentiras relacionadas à vacinação, cumpriu as etapas necessárias. E, como em tudo neste mundo moderno, andou rápido sim. Graças a Deus!
Sim, ciência e religião podem andar de mãos dadas, sem o menor problema. Assim como nós devemos dar as mãos e focar no próximo, porque é só assim que a imunização vai funcionar e vidas serão salvas. Encampar a visão oportunista de liberdade individual, ao expor vidas a um vírus comprovadamente letal, é estar no mesmo time dos que defendem, por exemplo, que podem roubar ou matar o próximo porque este é um direito individual dele.
Afinal, ao gritar por liberdade individual acima de tudo, todas as liberdades individuais entram em jogo. É por isso que para além do indivíduo, uma sociedade deve se pautar pelo coletivo. E a vacinação sempre foi e será um dever coletivo e um gesto de amor ao próximo. De proteção ao próximo.