domingo, abril 20, 2025
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EDITORIAL: A vida como preço da impunidade

Mata-se no Brasil com a certeza de que não haverá consequências sérias, deixando a sensação de que, aqui, o crime compensa

Por que ainda hoje em pleno século 21 acontecem atos de barbárie, dignos da idade da pedra, como o assassinato cruel de Genézia Maria de Souza, de 42 anos? Só por que não quis mais seguir com o relacionamento? Que mundo é esse?

Genézia não foi vítima só de um ex-marido frustrado que não aceitava a separação. Não! Foi, isso sim, vítima também do que mais mata no Brasil hoje em dia – a impunidade. Que é a certeza de que aqui tudo pode. Uma terra de ninguém. Com leis brandas e punibilidade risível. Onde quem pode mais chora menos, se é que me entendem.

Um país aonde o mau exemplo vem de cima. Como acreditar numa justiça (que de cega não tem nada) que manda soltar presos já condenados em segunda instância, quando todas as provas de seus atos foram mais que comprovados? Sabendo-se que nas instâncias superiores julgam-se apenas controvérsias jurídicas, não o mérito da questão. É o Brasil na contramão do resto do mundo. Andando de marcha à ré. Aqui, o crime compensa, sim. Quem confia na nossa justiça, tão morosa e, muitas vezes, controversa?

Contra essas injustiças é que o povo tem de se rebelar, lutar.

Hoje comemora-se a Proclamação da República, um ato de rebeldia do marechal Manuel Deodoro da Fonseca, em 1889, para derrubar a monarquia parlamentarista do imperador D. Pedro II e instalar a república presidencialista no Brasil.

Mogi Mirim prepara uma passeata em memória de Genézia de Souza, vítima de feminicídio no dia 6. Sob a inspiração de 130 anos atrás, guardadas as devidas proporções, o ato deve servir para encorajar a população a combater, com todas as forças e formas civilizadas, a violência contra mulheres. Que a coragem de Deodoro da Fonseca inspirem os mogimirianos.

Aliás, que inspire todos os brasileiros a pressionar o Congresso Federal a votar a Proposta de Emenda à Constituição, que deixa clara de uma vez por todas, no texto constitucional, a possibilidade da prisão após condenação em segunda instância. Com isso, a sensação de punibilidade melhoraria um pouquinho.

Mas ainda há muito a fazer. E deve começar por nós. A violência contra mulher não pode ficar impune. Não é não e pronto, e acabou. Uma simples agressão verbal, aquele palavrão dito na hora da raiva deve bastar para que a justiça haja, mas haja com energia. A vítima merece proteção de verdade e o agressor punição exemplar, logo na primeira importunação. Xadrez! Não dá mais para prender só depois que mata, isso quando prende.

Em pleno século 21 não se pode mais imperar no Brasil, embora um país de terceiro mundo, essa tão conhecida e enraizada impunidade. Afinal, a vida de ninguém vale o preço dela.

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