A Copa do Mundo é o assunto do momento. De quatro em quatro anos é assim, não tem jeito. Ou, no atual caso, após quatro anos e meio de espera. Já estamos do meio para o final do torneio realizado no Qatar. Neste sábado, dia 3, começa a fase de oitavas de final e, claro, o torcedor brasileiro segue, em geral, com o sonho do hexa na cabeça e no coração. Para os apaixonados por este esporte e até para aqueles ‘aficcionados’ sazonais, que exibem o amor quadrienalmente, ver o Brasil campeão do mundo é uma obsessão.
E mesmo uma parcela destes apaixonados se pegaram em uma situação diferente em 2022. É que, há alguns anos, com a escalada da divisão política no país, um dos lados passou a vestir a camisa que só é habitual em tempos de Copa. O uniforme amarelo do Brasil virou tradição após o Mundial de 1958. Até então o predomínio era do branco (aposentado após a fatídica derrota para o Uruguai na decisão de 1950).
E esta camisa passou a ser associada a apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (PL) ou para aqueles que têm uma ideologia política mais à direita. A bandeira do Brasil também se tornou comum a este grupo, enquanto os outros lados ou se mantiveram neutros quanto a símbolos ou, no máximo, caminhou com o vermelho e o 13 do PT. Só que símbolos nacionais não pertencem a uma parcela, eles são de todos nós.
O bom patriota é aquele que deseja ver toda a nação unida em defesa do que a representa. A seleção nacional de futebol é uma destas representantes e, por isso, desde 1930, nos unimos neste período. Não importa as visões políticas, a religião (ou ausência dela) e até mesmo se é maluco por futebol, gosta só um pouquinho ou indiferente. São as nossas cores que estão em jogo. As cores que muita gente, incluindo alguns que se dizem patriotas, desconhece a origem.
Oras, o verde não é das matas, e sim da Casa de Bragança, ligada ao antigo Reino de Portugal. O amarelo não é pelo ouro e remete à Casa de Habsurgo, com ligação com o antigo Reino da Áustria. Mas o Brasil como conhecemos, construído por meio do privilégio europeu sobre a escravização negra e indígena e que chegou até aqui, chegou verde e amarelo e essas são as cores de todos nós.
Como bom patriota, é lindo ver a bandeira do Brasil tremulada por quem ainda não a tinha fixado nos carros e a camisa da Seleção vestindo quem é a favor de “A”, “B” ou “C”. Imaginar um país andando no mesmo sentido político não só é utópico como mesquinho. A nossa chance de se fortalecer está exatamente nas diferenças, nas visões divergentes que podem, somadas, nos levar ao mesmo destino de um país rico e sem que a população precise ser pobre para isso.
A Copa do Mundo e este festival de verde e amarelo não associado à política é apenas um sopro de esperança por uma nação que, mesmo conflitante nas ideias, seja formada por pessoas que respeitem o próximo e quem pensa diferente. Nesta ideia de um país formado no amor e não no ódio, o coro de “Vai, Brasil” fica ainda mais forte, reforçando a energia para que, lá no Qatar, os comandados de Tite tragam o sexto título mundial de futebol masculino e a oportunidade de uma reunião de diferentes em uma festa que não vimos desde 2002.