Não dá para não falar da greve. Nas últimas semanas, nenhuma outra pauta chama tanto a atenção de Mogi Mirim quanto a paralisação das atividades na Prefeitura Municipal. Consequência do desacordo entre a Administração e o sindicato responsável por cuidar dos direitos dos servidores públicos municipais, o Sinsep.
Consequência também de certa inabilidade por parte da gestão atual que, conforme já falamos por aqui, trouxe novidades interessantes no pacote geral, foi coerente do ponto de vista de pregar mais benefícios aos que ganham menos, o que segue a linha política adotada historicamente por Paulo Silva, mas que vê o cenário todo vinculado ao percentual oferecido a todos os mais de 2.500 funcionários públicos: 2%.
O percentual está muito abaixo da inflação e distante do pedido apresentado pelo sindicato: 11,09%. O que gera destaque neste duelo de narrativas é que pouco se fala que o vale alimentação já aprovado através de lei, na Câmara Municipal, é algo que nenhum outro prefeito concedeu, por mais que sempre fosse pedido. Serão R$ 300 limpos à disposição de todos os servidores (exceção do prefeito, vice e secretários) e que devem ser usados em empresas credenciadas e vinculadas ao setor alimentício.
Não há desconto de impostos, como o IR, o que acontece com o salário de todo servidor. E, convenhamos, vale é, sim, dinheiro. Não há quem não precise gastar dinheiro com supermercado, ou padaria, ou açougue, ou até beer e lanchonete (estabelecimentos que, segundo a Prefeitura, também podem ser credenciados e usados pelos servidores). Basta ele direcionar o gasto dos R$ 300, que já ocorre todo mês, para estes estabelecimentos e investir os outros R$ 300, em dinheiro, no que ele quiser. Limpo. Livre de impostos.
Além disso, para um servidor que ganha R$ 1.212,00, ou seja, o salário mínimo, situação de muitos dos funcionários, um aumento de 11,09%, por exemplo, representaria R$ 134,41 a mais na conta. Isso, claro, com uma fatia sendo descontada através de impostos. Não vamos aqui, em nenhum momento, dizer que os 11,09% é injusto.
Convenhamos, pela situação do país, é até pouco. O aumento real deveria ser muito maior. O que estamos avaliando é o cenário de vale-alimentação x percentual exigido pelos servidores em greve, considerando que, como já dito, o único prefeito que “topou” inserir o vale na conta do servidor foi Paulo Silva. Porém, eis que vem a lição (para Paulo e todos os “prefeituráveis”)…
Antes de fechar o percentual de aumento, o vale já estava votado e aprovado pela Câmara. Aliás, será necessário um surto de insanidade, de Paulo Silva ou de um futuro prefeito e, sobretudo, da Câmara (esta e outras legislaturas), para tirar o vale-alimentação da lista de direitos dos servidores. Seria um tiro de canhão no próprio pé. O que mostra como foi equivocada a ordem dos fatores que trouxe a greve como resultado. Estivesse o vale ainda pendente, não seria surreal imaginar a Prefeitura dizendo:
“Então tá. Eu aprovo os 11,09%, mas sem vale, sem conversão da cesta básica em dinheiro, sem isenção no passe do transporte. Não subiremos tais projetos e manteremos como outros fizeram, sem esses benefícios”. E, se a postura fosse igual à adotada com outros prefeitos, os servidores aceitariam a proposta. Agora, os benefícios já estão concedidos, inclusive, cairão na conta dos servidores, grevistas ou não, no pagamento de abril (que ocorre em maio).
E, mesmo assim, a Prefeitura estará em xeque porque o foco ficou todo nos irrisórios 2% propostos. O jogo político vai muito além das cartas na mesa. São as cartas na manga que decidem o resultado final…