O mês de novembro é marcado, no Brasil, pelos feriados de Finados, que nos faz relembrar dos entes que partiram e da Proclamação da República, que recorda um marco importante de ruptura política no país. Em algumas cidades também é feriado no dia 20 de novembro. Data que, desde 2003, nos faz lembrar sobre a consciência negra.
Em um ano em que o racismo esteve tão em pauta, é fundamental deixar as piadas de lado. Há quem questione a ausência de um dia da “consciência branca”. Beira o ridículo e flerta com a ignorância não fosse o disfarce que a elite brasileira sempre vestiu para fugir do tema.
Jamais apagaremos de nossa história o flagelo pelo qual nossos irmãos e irmãs sofreram nas mãos de outros irmãos e irmãs. Os bisavós ou tataravós de muitos de nós eram mera mercadoria para outros de nossos bisavós ou tataravós. Eram humanos, mas de nada valiam. Pela cor da pele, serviam apenas para isto. Para servir. Apanharam. Foram torturados. Foram estuprados.
Muitos dos finados aqui no Brasil perderam a vida privados da liberdade. Extraídos à força de seus países para servir aos privilegiados da época. A abolição da escravatura, em 1888, foi um ato de desespero real para manter uma monarquia que estava ruída e que caiu de vez no ano seguinte, com a proclamação da república. Porém, a liberdade veio, a política mudou, mas a população negra seguiu à margem.
O olhar de preconceito contra suas origens, como as religiões de matriz africana, nunca finaram de vez. O olhar contra o samba, que já foi crime, é o mesmo empregado contra o RAP e o Funk, manifestações que emergem das periferias, exatamente o local para onde os negros foram despejados logo após a abolição. Você pode reclamar da qualidade, afinal, gosto é gosto. Mas não criminalize e generalize uma manifestação popular para não cair na mesma vala dos que tratavam o samba, hoje símbolo nacional, de vadiagem!
É… o samba venceu. O negro se tornou o maior do basquete. A negra se tornou a maior do tênis. O negro se tornou o maior jogador do futebol, esporte criado pela e para a elite inglesa. O negro se tornou o maior das ainda mais elitizadas Fórmula-1 e golf. Os negros vencem o Oscar, o Grammy e o Emmy. Os negros se formam. Formam. Mas ainda convivem com o olhar de que “preto parado é suspeito e correndo é culpado”.
É por isso que a luta de todos para quebrar de vez as correntes não pode parar. E precisa de consciência. Para que, no futuro, não cometemos os erros do passado, é preciso recordá-los sempre no presente. O 20 de novembro faz referência à morte de Zumbi, líder do Quilombo dos Palmares, situado entre Alagoas e Pernambuco. Foi morto em 1695, na referida data. Morreu lutando por uma óbvia liberdade. Como tantos outros finados nesta guerra sangrenta que continua a fazer vítimas através de um racismo estrutural que precisa ser aniquilado.