O Brasil flerta cada vez mais com a insanidade. Vivemos um período de polarização da discussão política, com o uso recorrente de gritos contra ou em defesa da esquerda ou da direita. Oras, a gigante maioria dos que se auto-declaram destros ou canhotos mal sabem o que os próprios termos significam. E, mais do que isso, não imaginam que a origem destes dois lados ocorreu de forma unida.
Sim, no final, somos todos iguais. Mas, há quem prefira seguir as falas dos ídolos humanos, contrariando, inclusive, os santos livros que empunham. Se o norte fosse bíblico, viveríamos em comunhão. Seguiríamos as palavras de amor ao próximo e não os discursos de ódio a quem pensa o contrário.
Mesmo assim, temos pleno direito a se manifestar. A expressar a opinião. Esta liberdade está expressa na Constituição Federal, conquistada após anos de chumbo e sangue. No Artigo 5º da legislação editada em 1988, mais precisamente no inciso XVI, está claro que “todos podem reunir-se pacificamente, sem armas, em locais abertos ao público, independentemente de autorização, desde que não frustrem outra reunião anteriormente convocada para o mesmo local, sendo apenas exigido prévio aviso à autoridade competente”.
Você está livre para defender a sua causa. Para defender o seu político de preferência, aquele que tanto estima. Ou se colocar contrário ao que não se afina. Você pode gritar que odeia o comunismo ou que ama o comunismo. Você pode expor faixas de apoio ao sistema ou cartazes se colocando contrário a ele. A Constituição de 1988 permite. Já o Ato Institucional de 13 de dezembro de 1968, também conhecido como AI-5, é o oposto.
Em seu inciso III, era claro, com a “proibição de atividades ou manifestação sobre assunto de natureza política”. Falava ainda em liberdade vigiada, domicílio determinado e outros vetos à liberdade de expressão. Portanto, se hoje há quem possa ir à rua até para pedir a volta de um ato institucional que proíbe de ir à rua é porque a Constituição Federal dá esta liberdade.
A contradição de manifestações de apoio a um ato que proíbe manifestação deveria falar por si só. Mas, em um país conduzido pela insanidade, ainda é preciso expor o óbvio. Uma batalha se desenha e ela é pela democracia. Pela óbvia, humana e até bíblica condição de conviver em paz com quem pensa diferente. Para que isso ocorra, precisamos, cada vez mais, que a voz dos sensatos e dos que defendem o amor ao próximo seja ouvida no mesmo decibel dos que gritam apoio a atos que levam à proibição da manifestação. Da liberdade.