quarta-feira, setembro 18, 2024
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Editorial: Pelé, Mogi e um humano rei

Vamos começar o ano falando de uma notícia ainda de 2022. No começo desta semana, foi sepultado em Santos (SP), após velório iniciado na segunda-feira, 2, Edson Arantes do Nascimento. Já Pelé, é eterno. Não é um assunto de pauta direta mogimiriana, algo que, ao longo do último ano, acabamos por repetir por aqui. Procuramos nos aprofundar em pautas locais neste espaço de posicionamento do jornal O POPULAR, mas é impossível ficarmos alheios ao mundo.

E Pelé é a maior representação brasileira de globalidade. É possível ‘linkar’ o ‘Atleta dos Séculos’ a Mogi Mirim? Claro que sim. Oras, muitos se lembram da foto posada do Rei do Futebol ao lado de seu filho Edinho quando o mesmo, em 2015, assumiu o comando técnico do time principal do Mogi Mirim Esporte Clube. De se lamentar a falta de tino de quem poderia, na época, cuidar da imagem do clube, por existir apenas a claro simbólica foto de Pelé segurando a camisa 10 do Sapão da Mogiana.

Não apareceu, porém, o escudo do MMEC, algo que enriqueceria o acervo de imagens históricas relacionadas ao clube, maior patrimônio imaterial da cidade em seus quase 300 anos. E mais… Uma foto de Pelé vestindo o manto vermelho. Passou, passou. Como passada é a chance de alguém dizer que jogou com Pelé. Por aqui, poucos casos de mogimirianos natos que tiveram tal chance, sobretudo em partidas oficiais.

Paulo Davoli foi zagueiro do Santos no fim da década de 1960 e se tornou um grande amigo do maior atleta de todos os tempos. Zé Roberto Januário não chegou a atuar com Pelé, mas ganhou o primeiro título do Peixe após a saída do craque, treinou algumas vezes com o ídolo e chegou a usar a camisa 10 eternizada pelo atleta na Vila Belmiro. Neste exercício de aproximar Pelé de Mogi, o sucesso é relativo.

Fato é que a figura criada pelo Edson através de seu talento incomparável deixou um legado em Mogi, no Brasil, nos confins da África e Ásia e em todos os cantos do planeta. Nascido em um dos países mais racistas da Terra, se fez rei. Um monarca de pele escura, que enterrou teorias crescentes de que o brasileiro era um ser inferior por conta de sua miscigenação. Em 1954, por exemplo, João Lyra Filho, chefe da delegação brasileira na Suíça, produziu relatório apontando que o fracasso do escrete nacional no Mundial de Futebol ocorreu em razão da presença de negros e mestiços na equipe.

Quatro anos depois, Pelé, com apenas 17 anos, comandou a Seleção na conquista de sua primeira Jules Rimet e derrubou os absurdos mitos, incluindo alguns fantasmas que perseguiam antecessores, como Barbosa, culpado pelo insucesso de 1950. Pelé abriu portas para a afirmação de meninos e homens negros em uma sociedade em que muitos viventes eram ex-escravizados. Ou filhos.

A escravidão, maior câncer da história desta nação, era muito mais vívida e Pelé, pura e simplesmente com a sua realeza, contribuiu para reduzir os danos deste mal. Fez ‘brancos’, alguns filhos de senhores de escravos, aplaudir, idolatrar, reverenciar o Rei Negro que transformou a 10, o 10, em sinônimo de altíssimo nível. Transformou o próprio apelido, Pelé, em adjetivo. Se alguém é o melhor em algo, ele é o Pelé daquilo. E se tornou o maior embaixador de todos os tempos do país criando uma marca que apresentou e ainda apresenta o Brasil ao mundo. Virou passaporte para muitos. Salvou a pele de alguns. Parou guerras. Um Edson humano. Um Pelé eterno!

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