terça-feira, abril 22, 2025
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Editorial: Que as correntes sejam quebradas

Somos privilegiados por viver em Mogi Mirim neste 2020. Por aqui, não há favelas, por mais que ainda tenhamos irmãos morando em condições inaceitáveis, com ruas de terra e saneamento longe do ideal. Não temos “morros” de capitais como os criados após medidas que privilegiavam as classes média e alta, com o fim dos cortiços em áreas nobres.

Oras, a realeza já proclamara a Abolição, em um 13 de maio, como o que passamos na última quarta. Após séculos de escravidão, não era bastante a quebra das correntes. Era preciso um olhar mais humano com os irmãos menos favorecidos. Por óbvio, se isto não ocorre a caminho da metade do século XXI, imaginem na transição do século XIX para o XX.

A política de segregação permitiu a criação de “morros”. Era mais simples distanciar os miseráveis que oferecer-lhes melhores condições de vida. Um dos primeiros exemplos foi o Morro da Favella, que ganhou o nome por ter sido habitado por exemplares da planta de mesmo nome, originária do sertão nordestino e que chegou ao Rio pelas mãos de membros das tropas que lutaram por lá na Guerra de Canudos.

Aos poucos, o termo favela passou a ser aplicado para qualquer conjunto de barracos, com aglomeração humana em condições desumanas. Não é mais exclusividade do cenário fluminense e é o principal símbolo do disparate social que vivemos no Brasil.

Se findar os cortiços centrais tinha como objetivo tornar distante os antros de vadiagem e até de epidemias, esta segregação expõe uma continuidade daquela velha política pública, com brasileiros à margem de esgotos a céu aberto, prontos para morrer de vários maus, incluindo uma pandemia, como da Covid-19.

É, há certos privilégios em Mogi Mirim em relação a outras cidades. Mas, é óbvio que há ainda muita distância. O distanciamento social que deveria ser combatido é este. Todo aquele que compreende as consequências à economia de se auto-defender de uma doença que anseia pela aglomeração de alvos, sabe bem que há séculos a capitalização traz danos a irmãos e irmãs.

Que os capazes de vencer esta pandemia estejam prontos não apenas para salvar a própria pele, mas também para, unidos, lutar por mais igualdade. Para que cenários contrastantes, como condomínios de alto padrão e vielas sem asfalto, sejam extintos. Não dá para clamar pela retomada da economia, com o simples objetivo de reencher o próprio bolso.

É preciso lutar por este reabastecimento, lógico, mas também pela criação de condições mais humanas para aqueles que sequer têm bolsos. Será uma boa hora para que as maiorias peçam desculpas às minorias e, com décadas de correção, as correntes do egocentrismo humano sejam de fato estouradas.

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