Já falamos muito por aqui sobre a necessidade de se reforçar o amor e o respeito ao próximo, sobretudo, em tempos de pandemia. Vivemos um momento atípico, que gera tensão pelo medo da doença em si, apreensão pelo cenário econômico e até elevações de síndromes atuais, como ansiedade e depressão. Vivemos também uma chance de ter um mundo com mais compaixão e amor? Sem dúvida. Mas, realmente, da para acreditar que tudo vai mudar e seremos pessoas melhores?
Vivemos em um país em que pessoas que estão a serviço de toda a nação vomitam que “minorias devem se curvar às maiorias”. E antes fosse só um outro que separasse ao invés de unir. Quem hoje veste a faixa ou a vestiu no passado incita irmão contra irmão por puro viés eleitoral. As massas de manobra enxergam, em cada fala distinta à sua opinião, um inimigo. Não se debate o argumento, mas se tenta desconstruir o argumentador.
A pandemia poderia ser o divisor de águas para que esta nação, encaminhada a se afundar no rio do egoísmo e da visão unilateral, se tornasse mais fraterna. O Brasil é um mar de hipocrisia. Tem quem pregue palavra divina e aja a favor da violência. Tem quem defenda a família, mas só a que tenha o formato que lhe convém.
Não somos o país pronto para sair melhor da pandemia. Seguimos o fluxo das águas para algo ruim, sombrio. Não é delírio imaginar um país tão polarizado ver deflagrar uma guerra civil. E já há quem esteja antevendo tudo isto, incentivando que seus pares se armem. Conveniente. Estratégico.
Isto pode ser um devaneio? Por Deus, que seja! Que então se prove o extremo contrário e que dá, sim, para sermos um povo melhor. Que as armas sejam saúde e educação. Que os ataques a outro humano por mero interesse pessoal, financeiro, político ou o que for se transformem em reflexões sobre si e proposituras de si. Sim, tem eleição chegando aí e a farra dos ataques gratuitos, velados ou explícitos, se repetem. E, convenhamos, por mais que haja quem se alimente do sadismo, há também muita gente que não aguenta mais tanta falta de empatia.
Não dá para aguentar mais que pessoas ofendam pessoas que estão trabalhando pela saúde do próximo. Oras, todos são pessoas! Desembargadores e guardas. Engenheiros civis e fiscais. Presidentes e garis… No final, a única diferença entre eles está em algo que não vai para cova: o dinheiro. Mas o fim é igual a todos. Na cova. E outra diferença está no que se deixa. Entre um legado de amor ou de ódio, se abraçar à segunda opção é conseguir, finalmente, ser diferente de outros. Ser pior!