quinta-feira, novembro 21, 2024
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Editorial: Representatividade e o 1º negro presidente da Câmara

Quem passeia pelas páginas da história do Brasil, a real, não a contada pelo viés colonizador, é ciente de que o desenvolvimento do país está totalmente ligado a duas políticas. Primeiro, do extermínio dos povos originários, os indígenas. Depois, através da captura de homens e mulheres oriundos da África, a escravização foi fundamental para que as terras dessem frutos, do algodão ao açúcar, do café à borracha.

A região em que Mogi Mirim está instalada não ficou imune a este processo. Pelo contrário. Ignorar que a nossa história foi fundada em meio aos canais da época é escantear a verdadeira história que nos deu origem. Não é questão de criminalizar, de atacar e muito menos de lacrar, é pura e simplesmente de respeitar a confecção histórica pela qual a nossa região passou.

Arraial entre 1719 e 1751, freguesia e com paróquia instalada desde 1751 e, finalmente, com status de vila a partir de 1769. Desde 1º de abril de 1770, com o pioneiro presidente capitão Manoel Rodrigues de Araujo Belem, Mogi possui uma Câmara Municipal. Nestes 252 anos, pela primeira vez, um homem negro, de pele retinta, será o líder máximo do Legislativo Municipal. Na última semana, Dirceu da Silva Paulino foi eleito presidente da nossa Casa de Leis.

Aqui, não queremos jogar nenhum confete eleitoral ao político. Estamos pura e simplesmente, tratando sobre história. Sobre a continuidade da produção de nossas páginas, que sempre, em seus capítulos sobre a presidência da Câmara, teve homens e mulheres com um tom de pele mais claro e, agora, em 2022, chega ao seu primeiro homem negro presidente.

Que fique claro. Isso não significa que, automaticamente, teremos avanços em políticas raciais, tampouco que a parcela negra, majoritariamente na base da população mais vulnerável social e economicamente, terá um período de franca prosperidade.

O ponto aqui é histórico. E de ressaltar a importância da representatividade. Dirceu é um vereador, ou seja, alguém eleito para representar a população e, em 2023, entre os 17 vereadores, será o presidente. E o primeiro negro de pele retinta a ocupar tal cargo.

Um dos motivos para que haja muito menos mulheres na política do que homens está na histórica segregação que fez com que o voto feminino só se tornasse um direito a partir de 1932. E apenas em 1988 os analfabetos foram incluídos.

Em sua gigante maioria, constituída por pessoas pobres, que, por sua vez, de uma maioria negra. A falta de representação gera um reflexo que torna menos universal o interesse e o acesso a certos lugares. Hoje, mais mulheres querem fazer jornalismo esportivo porque este espaço está começando a ter mais representantes.

O futebol se tornou um lugar para negros e pobres a partir do momento em que craques como Leônidas da Silva conquistaram espaço e deram a outros homens como ele, de origem humilde e pele escura, a chance de sonhar em estar em um lugar que, nos primórdios deste esporte, era reduto da aristocracia.

Homem do esporte, que se tornou espelho para muitos mogimirianos desejarem estar no voleibol ao ser um representante da cidade no alto nível da modalidade, Dirceu agora tem a oportunidade de ir além de sua própria história e cumprir um papel pela universalização da política local.

Que tenha sucesso na missão, muito menos por si, muito mais pelas consequências coletivas que talvez ele próprio não tenha ciência da dimensão.

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