No último capítulo de suas histórias, o Sensei Edson Francisco aborda momentos como torcedor do Mogi Mirim e da boa relação com Wilson Barros e jogadores, além do episódio de um teste na Internacional de Limeira-SP como goleiro.
Boteco – Chegou a derrubar jogador como maqueiro do Mogi?
Edson – Eu não, ele (Guilherme, falecido irmão de Edson), sim, fazia isso. Ele virava o cara, já fez muito isso. Ele: “Edson, vamos trabalhar hoje? Não tem ninguém”. Íamos eu e ele. “Não apronta lá, não, hein”. A gente não podia aprontar, porque o Wilson de Barros gostava muito de mim, tinha muita amizade com o Wilson, a ponto de chegar nele no Bira, da quitanda. “E aí, professor?”. “Professor uma merda, negão, o que você quer?”. “Não tem um lugarzinho para eu jogar naquele time ruim do Mogi, lá?”. Ele falava que goleiro de bunda grande não entrava no time. “Como, professor? Aqueles goleiros ruins lá”. Você não lembra do Buda, do Fernando, goleiro? Essa época que eu zuava, eu dei aula de caratê pros dois filhos do Fernando. Você, acho que não lembra do Antônio Carlos, um volante que o Mogi teve, contra o Palmeiras, ele fez um golaço, na época do Zetti, eu subi na arquibancada, ele veio me cumprimentar. Eu andava com um chapeuzão vermelho, a antiga Gazeta Esportiva tirava foto de mim na arquibancada, aquela máquina antiga. O primeiro a entrar com o chapeuzão mexicano era eu. O Wilson falava: “Edson, você com aquele chapéu, não tem quem não vê. Além de negão, ainda chapéu vermelho, cara, não tem como não ver você”. Então, o Wilson era um cara muito mil, mil mesmo. Não é para todos que ele dava liberdade, você tinha liberdade de brincar com ele, eu ia no vestiário, brincava com os caras, conversava, até teve um jogador, o Ramon, era baixinho, bom de bola, ia em casa almoçar. “Hoje eu não vou almoçar aqui, pessoal, vamos para casa do negão”. O Sula casou com uma amiga nossa do Mirante, zagueiro, bom para caramba. Buda era um goleiro que para nós era anãozinho, mas se você ver ele voar. O Décio, advogado, eu adorava ver ele jogando, a hora que ele saÍa do chão, não deixava a bola cair, segurava e trazia. Quantas vezes não ficava atrás do gol para ver ele jogar.
Boteco – Como foi o teste como goleiro na Inter de Limeira?
Edson – Na época tinha goleiro baixinho. Eu trabalhava em uma fábrica no Morro do Mirante. Tive férias, peguei mochila, tênis, luva, shorts, tudo. Para chegar lá e não precisar pegar do time. Peguei o ônibus, desci na entrada do Limeirão. Cheguei, os caras falaram: “a Inter jogou ontem, está tendo treino lá no campo do Vargas, do outro lado da cidade”. Deu o endereço, carimbaram, peguei o ônibus. Sozinho, cheguei lá no treinador: “da onde você é?”. “De Mogi Mirim”. “Como está o Mogi?”. “Mogi está na Terceira Divisão”. “Mas você veio pra cá?”. “Vim tentar”. “Ótimo”. Pegou uma camisa azul, coisa mais linda, com emblema da Inter. “Quer luva?”. “Não”. Treinei dois jogos-treinos, contra o titular, pro titular detonar você, e contra os reservas. Ele falou: “não vai embora já, fica mais um pouco”. Fiquei, fui almoçar com eles. Aí reuniram lá, queriam me mandar para Araraquara. Falei: “Araraquara?”. Deram um papel pra mim.
Boteco – Para a Ferroviária, por quê?
Edson – Porque essa categoria já estava estourando a idade. Como eu sustentava a minha casa, eu não podia largar minha mãe e irmãos. Sentei com a minha mãe: “Edson, você que sabe”. Falei: “mãe, eu que sei, não, temos que decidir”. Ela: “não posso falar por você, porque amanhã ou depois, não quero que você fale que eu tive culpa de você não ser jogador”. Rasguei o papel, joguei fora. Por isso que corri atrás do Bruninho (filho de Edson), (ele) não quis saber de nada.
Boteco – Valeu, Edson!