sábado, novembro 23, 2024
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Egoísmo coletivo

A sociedade sempre julga que filho único cresce egoísta. Eu acho o inverso. Quem tem irmão tem poucos momentos em que não precisa dividir nada, sejam elas coisas materiais ou a atenção dos pais, e isso é bem chato. Não sei dizer o que acontece, mas quando nasce o segundo filho, por mais que se tenha consciência de ser uma nova pessoa, passamos um tempo agindo como se fosse continuidade, tipo fila que não se pode largar a mão do amiguinho.

E digo mais, não basta enxergar a individualidade, é preciso também se livrar da culpa ao fazê-la. Sabe aquela coisa de “comprei um tênis para um, preciso comprar para outro” ou “não podemos tomar um sorvete na rua porque seu irmão não está junto”?

Lembro bem quando eram pequenos e apenas um era convidado para a festa no buffet infantil. Dá para imaginar a carinha do que ia junto levar e voltava da porta? Era de rasgar o coração, mas, um dia consegui perceber o quanto misturar as coisas era nocivo para todos.

E falando em aniversário, Gabi e Neto são de outubro, mas, até hoje, comemoramos junto uma vez. Pensa comigo, a gente só tem um dia que é nosso no ano e, já que não somos gêmeos, o que é outra história, é muito triste ter que dividir nosso protagonismo. Nem a matemática justifica, visto que o grupo de amigos é distinto e a quantidade de convidados multiplica.

Também demorei para quebrar a barreira da afinidade sem me sentir a pior mãe do mundo. Não se trata de amar um mais que outro, se trata de respeitar que existe melhor companhia para cada experiência. Tem filho que é bom para cinema, tem filho que combina mais com conversa na cama. E tudo bem.

Sim, tem o lado bom. Dividir o quarto com o irmão na infância é colecionar bons momentos e se não tiver mais crianças na viagem, já tem com quem brincar. Na adolescência dá para trocar figurinha sobre os amigos e os assuntos modinha. Também se tem alguém para dividir as tarefas de casa e para dividir os gritos da mãe naqueles dias de descontrole. Tem muita coisa boa, só não dá para desconsiderar a luta interna que deve ser para cada um se enxergar e respirar sozinho.

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